Mapas para as Estrelas | David Cronenberg

Se você pegar a filmografia de David Cronenberg, verá que ela é uma interessante mistura de filmes profundamente realistas – e até baseado em personagens reais, como Um Método Perigoso – e outros completamente bizarros, como A Mosca. E agora, com Mapas para as Estrelas, Cronenberg mistura levemente os dois mundos e apresenta uma ácida crítica à Hollywood.

Essa crítica da indústria hollywoodiana, aliás, é algo visto recentemente no cinema com o cultuado e vencedor do Oscar Birdman. E apesar de não ter sido tão bem crítica no exterior como o filme de Iñarritu, acredito que o filme de Cronenberg é ainda mais ácido e cruel. Nele, acompanhamos a história de vários personagens – todos ligados pela cruel fugacidade da fama e da indústria cinematográfica.

Em um dos núcleos do filme está a família Weiss. O pai é Sanford (o ótimo John Cusack), que é considerado uma estrela da autoajuda. Ele é casado com Christina, mãe que dedica 100% de seu tempo ao filho (Evan Bird), um astro-mirim cheio de problemas. Além disso, a família tem uma filha (Mia Wasikowska) que acaba de sair de um centro de tratamento psicológico por ter problemas de piromania criminosa. Ela, voltando para a cidade natal e buscando maneiras de lidar com sua família, passa um bom tempo com o motorista Jerome (Robert Pattinson), um aspirante à ator. Jerome, aliás, trabalha frequentemente para Havana (Julianne Moore, sensacional), uma atriz consagrada e que está obcecada por um papel de um filme que fez com sua mãe, quando jovem. Porém, ela possui alguns problemas psicológicos, como ver o fantasma da mãe, e se trata frequentemente com Sanford. Enfim, está feita a ligação entre todos.

Ao se ver todo o enredo, já percebe-se o quão bem pensado é o roteiro. Todos os personagens se conectam e trazem alguma crítica ao que acontece em Hollywood. O astro-mirim tratado como adulto, a atriz consagrada em decadência, o rapaz que deseja ser ator, mas é usado por todos a todo o instante. É uma crítica a cada fala, a cada ação. E assim como é visto em Birdman, Mapas para as Estrelas pretende abarcar a problematização de muitas coisas e o faz muito bem. Obviamente, nada é tratado com muita profundidade, já que são vários personagens e problemas. Mas o filme cumpre o que pretende.

As atuações estão ótimas e conseguem convencer o espectador. John Cusack e Julianne Moore dão um show e o novato Evan Bird – que fez apenas pequenas produções até então – surpreende e mostra um bom potencial. E Mia e Pattinson, atores irregulares, conseguem segurar seus papéis e não perdem a chance de brilhar em momentos que permitem boas atuações.

A direção de Cronenberg é firme, apesar de quase não ter a marca dele: acontecimentos bizarros. E quando essa marca surge – bem no final – a qualidade do filme é elevada. Até este momento, o longa era uma crítica à sociedade hollywoodiana. Só depois dos acontecimentos finais, o filme vira um verdadeiro soco no estômago. A conclusão dos personagens é ótima e muito reflexiva. Não é um filme fácil de digerir e entender, vale o aviso. Mas ele é brilhante, cruel, melancólico. É Cronenberg puro e da melhor qualidade.

O filme só não é ótimo por ter alguns momentos de roteiro arrastados e por ter personagens mal aproveitados – como a Carrie Fischer (sim, a Princesa Léia) interpretando ela mesma e até mesmo John Cusack, que poderia ter sido mais explorado. Além disso, características técnicas, sempre muito bem aproveitadas por Cronenberg, não brilham de fato. Mas é só. O roteiro, enredo, atuações e direções são excelentes e tornam o filme uma das melhores críticas à indústria de Hollywood.

Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.