Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo | Benjamin Alire Sáenz

Vejam se concordam comigo: os melhores livros não são os que te deixam amigo dos personagens? Aqueles que constroem, normalmente em primeira pessoa, narrativas tão reais e pessoas tão cativantes que você quer conversar com elas, ajudá-las, alertá-las, sofrer junto e sair para beber uma cerveja quando nos momentos tristes e felizes? Eu, pelo menos, acredito que sim.
Vários lançamentos do último ano para cá têm me dado essa sensação de cumplicidade. Queria pegar Miles Halter no colo em vários momentos de Quem É Você, Alasca?, desabafar junto com Leonard Peacock, e descobrir o nome da protagonista de Segredos de Menina para crescer junto com ela. Em Aristóteles e Dante Descobrem Os Segredos do Universo, recomendação gigante de leitura desse post, aconteceu a mesma coisa, a partir de várias pequenas ousadias do autor Benjamin Alire Sáenz.
Antes delas, só uma introduçãozinha rápida do romance. Aristóteles é um garoto de quinze anos, filho de mexicanos vivendo nos Estados Unidos. Ele narra o livro, e 1- tem uma família que vive entre silêncios, e guarda vários segredos intocáveis, como o irmão preso e os traumas de guerra de seu pai (soldado do Vietnã); 2- se sente sozinho por isso, e por enxergar seu mundo com regras extremamente diferentes dos seus pais, e outros adolescentes, que detesta; e 3- se fechou completamente por isso, sempre dando uma forma de se distanciar dos outros, e reiniciando o ciclo.
Quando Dante, outro adolescente, aparece, em uma metáfora genial de movimento e de “nadar contra a corrente”, uma fusão de dois mundos diferentes ocorre. Embora com um lado triste que em certos momentos salta para fora, principalmente quando em conversas sobre sexualidade, o novo amigo de Ari é apresentado como colorido frente ao seu cinza - não a toa uma metáfora dos gibis de super-heróis americanos, cheio de texturas pop e otimistas -, e sempre está olhando para “fora”, até com sua família. É sobre como caminhará o crescimento turbulento dos dois, e a relação complexa de atração e repulsão, sempre ligada por um amor enorme, ora externalizado, ora retraído, que o livro caminhará.
Ok, vamos às coragens de Saénz: primeiro, escrever um livro para jovens e não ter pressa, fazendo capítulos curtos, muito mais pautado nos diálogos, nos sentimentos quase microscópicos do dia-a-dia, nas reflexões e nos “climas” das pessoas, especialmente de Ari, é um jogo arriscado, que o autor ganha brilhantemente. A cada conversa por telefone entre os dois protagonistas, por mais boba que elas pareçam, vamos entrando no mundo deles, e percebendo o quanto aquela leveza permitida, até apreciada diz muito do polo de alívio que um é para o outro. A cada monólogo interno do narrador, uma mudança sutil de postura vai ficando clara. A vida é, quando na prática, feita de uma junção de vários pequenos detalhes para uma grande mudança. De fato, vivemos as deles, e temos total consciência do porquê dos “turning-points” ocorridos no romance exatamente por essa preparação.
Depois, não há conflito no livro, nem vilões. Tudo se resolve pelo afeto entre todos os personagens, que vai se expandindo ao longo das páginas. Dante passa a cuidar de Ari, que retribui cuidando - e muito - de Dante, e por isso ganha o reconhecimento da mãe dele, se sentindo mais à vontade para então cuidar de seu pai, que retribui, e assim vai. Ao invés de terminar com a desunião de todos os personagens antes unidos, Benjamin faz o contrário, e o livro só ganha força, com um final - aí sim merecidamente -, apoteótico, e validado por todas as superações que vêm antes, como um prêmio aos protagonistas e aos personagens que deram condições para isso. Peguem as cervejas, porque eu quero comemorar com eles!

Texto colaborativo. Créditos: Bruno Jacob
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Cristiam Oliveira

22 anos, se formou em administração mas gosta mesmo de comunicação. Tem uma paixão enorme por cinema e adora, sobretudo, os livros. É muito organizado, calmo, chato e grudento; se apega muito fácil às pessoas que gosta e, às vezes, é extrovertido. Adora mudar e criar coisas; é muito curioso e persistente em tudo que faz. Gosta de cachorro mas prefere gatinhos (inclusive tem dois!).

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4 comentários:

  1. As resenhas de vocês são prfts!!

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  2. Desde o lançamento do livro, eu pensava que era algo sobre o Aristóteles filósofo e não um personagem criado pelo autor hahaha, mas mesmo lendo a resenha e vendo que você gostou, a história do livro não consegue me prender, parece ser uma daquelas leituras para passar um domingo a tarde lendo, bem calmamente, e eu já gosto de livros mais "agitados! haha.
    Abraços!

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  3. Quando eu ouvi falar sobre esse livro eu pensei logo que seria sobre Filosofia, mas lendo a resenha vi que só tinha o nome mesmo por que o livro e bem diferente mas não chega a entra na minha lista de leitura.

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  4. Tenho que ser sincera e dizer que infelizmente não me chamou muita atenção... Mas quem sabe, né? Talvez um dia eu o leia e entre na minha lista de favoritos.
    Aliás, foi uma resenha muito bem escrita!
    Abraços.

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