O Beijo | James Patterson

Bruxas e Bruxos é uma das poucas séries que não sei, realmente, o que sentir. Normalmente, defino logo se gosto ou não de um livro. É natural. Às vezes, a dúvida dura por um livro e só. Mas a série de James Patterson é um caso especial. No Brasil, já está entrando em seu quarto volume e continuo questionando a qualidade literária.

O primeiro volume, Bruxos e Bruxas (sim, o mesmo nome da série), é relativamente bom. Como está apresentando o universo e os personagens, é um pouco mais parado. Mas a ideia convence. Parece ser um 1984, só que juvenil e sem a qualidade estupenda de escrita de Orwell. Considero o ponto alto da série.

Em seguida, dois que não me animaram: O Dom e O Fogo. O segundo volume da série é incrivelmente fraco. É quase uma repetição de assuntos do primeiro e não empolga momento algum. Já em O Fogo a coisa fica mais interessante, devido ao final extremamente surpreendente. Por isso, estava muito animado ao começar a leitura de O Beijo. Não sabia como Patterson continuaria a história após os eventos do terceiro livro.

(Atenção: o texto a seguir contém spoiler sobre a série, já que se trata do quarto volume. Para quem leu os outros três, ok. Pode ler. Para quem não leu, continue por sua conta e risco!)

A história em O Beijo continua focando nos irmãos Wisty e Whit. Só que dessa vez, sem O Único que é o Único, morto pelos irmãos em O Fogo. Agora, Bloom, um dos lideres dos rebeldes, é eleito o novo comandante e líder do Conselho. Através de sua liderança, ele precisa reerguer a cidade e solucionar o sumiço das crianças, que continua a acontecer.

Só que as coisas começam a piorar quando a cidade da Montanha, comandada pelo Rei da Montanha, interrompe o abastecimento de água e de comida. Somado a isso, o poder, aos poucos, começa a subir na cabeça de Bloom, deixando os irmãos bruxos em uma situação ainda mais complicada.

Logo no começo da história, alguns problemas, já notados nos outros livros da série, são retomados: linguagem por vezes muito infantil e extremamente forçada, situações repetitivas, como os constantes contatos com Célia, que resultam nas mesmas atitudes de Whit e uma escrita que, por vezes, não empolga. São defeitos já observados desde o primeiro livro e que não avançaram nem um pouco.

Além disso, ele não se define. Antes já era confuso entender o que Patterson buscava, agora é impossível. O livro é uma mistura de humor (forçado, mas humor), ação, aventura, livro infantil (vide as denominações, como “o vilão mais malvado do mundo”), livro juvenil e livro adulto. Agora, inserindo um romance sem sentido, acaba invadindo o mundo dos livros voltados ao público feminino.

Tal indefinição é uma constante desde o primeiro volume, o que ajuda a criar uma opinião negativa sobre o livro. Afinal, com tanta mistura de gêneros e públicos alvo, leitores não se identificarão mais facilmente.

Então, você deve estar se perguntando: com um livro tendo tantos aspectos ruins, como você não consegue definir se ele é bom ou ruim? Bom, isso acontece porque a história segue uma linha muito boa. Atuando como uma distopia juvenil a maior parte do tempo, ela cria reviravoltas interessantes, fazendo com que o leitor apenas se acostume ou ignore os problemas citados.

Enfim, O Beijo é um livro com muitos problemas: escrita pouco atraente, personagens sem nenhum chamariz e falta de identidade, só que a história, como típico de Patterson, envolve o leitor e faz com que a série fique na lista de livros à serem lidos. Isso, é claro, com a esperança de que o autor se acerte e torne a série algo realmente bom.

Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.