O Doador de Memórias | Lois Lowry

Após o sucesso estrondoso de Jogos Vorazes, começaram a pipocar distopias juvenis. Legend, Divergente, Feios, Destino e Starters são apenas alguns dos exemplos. Muitos outros livros povoam esse novo e particular universo literário, que se expande cada vez mais. E agora um novo livro dessa linha chega ao conhecimento do público brasileiro: O Doador de Memórias.

Surpreendentemente lançado em 1993, o livro sempre foi reconhecido positivamente no exterior. E, agora, após o boom das distopias e a adaptação cinematográfica chegando, a obra foi trazida ao Brasil pela Editora Arqueiro. Com apenas 185 páginas, O Doador de Memórias surpreende pela sociedade muito bem pensada e elaborada pela autora e pelo ótimo enredo apresentado.

A história, basicamente, é sobre o jovem Jonas. Próximo de completar 12 anos, ele irá, então, receber uma incumbência dentro da sociedade na qual vive. Tudo vai bem até o momento em que descobre sua futura profissão: recebedor de memórias. Assim, ele terá que receber d’O Doador todas as memórias esquecidas e abandonadas pelo regime no qual vivem: são momentos felizes, dolorosos e até mesmo sensações e cores, todas elas sob poder do Doador e que agora serão passadas para Jonas, tornando-se a pessoa mais sábia da comunidade.

O primeiro grande ponto positivo observado é a ótima construção que Lois Lowry fez da sociedade na qual o livro se passa. Ela consegue colocar todas as características sociais dentro das cerimônias de passagens de níveis, conforme as crianças vão envelhecendo. Por exemplo, elas ganham uma bicicleta aos nove anos, indicando uma maior liberdade e independência para circularem sozinhas. Ou a roupa que até certa idade é abotoada nas costas, exigindo a ajuda de colegas para fechá-la, incentivando a cooperação. É genial. O leitor consegue, através desses pequenos "presentes", compreender como é o processo docilizante.

Outra característica que chama a atenção é o avanço do enredo, que cresce conforme o conhecimento de Jonas. No início da trama, a autora não provoca um estranhamento sobre a sociedade. Você se acostuma com a falta de coisas diferentes. São apenas algumas coisas que vão, aos poucos, indicando o quão idealizada e pouco diversa ela é, como a surpresa de pessoas com olhos claros. Assim, o leitor se surpreende junto com Jonas, quando descobre tudo que era escondido até então.

Esse avanço do enredo também acompanha o desenvolvimento dos personagens, que é muito bem construído. Não só Jonas, o principal, como seus pais, a irmã Lily e o Doador possuem um aprofundamento surpreendente para apenas 180 páginas. O leitor consegue enxergar como eles veem o que acontece em suas vidas. 

O único ponto negativo que eu indicaria é o final, rápido e pouco consistente. Porém, a obra faz parte de uma tetralogia. Sendo assim, o ponto negativo acaba se transformando num gancho para a sequência. Além de algumas revelações surpreendentes que acontecem nas últimas páginas. Assim, posso concluir que o livro é ótimo. Distopia muito bem construída, com ótimos personagens, descrições e enredo. Fora a escrita leve e fluida da autora. Deve ser lido por todos que gostam de ótimas histórias passadas em sociedades alternativas. Afinal, ela cumpre seu papel de causar reflexão nos leitores.

Vale ressaltar que a obra está sendo adaptada agora para os cinemas. Com estreia prevista para 11 de setembro, o filme tem em seu elenco uma constelação: Jeff Bridges, Meryl Streep, Taylor Swift, Katie Holmes e outros ótimos atores. Grande promessa do cinema de 2014.

Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.