Se Eu Ficar | Gayle Forman

No embalo de “A Culpa é das Estrelas”, grande parte da geração que gostava de vampiros, agora gosta de um drama. Daqueles bem pesados, com personagens morrendo, sofrendo de uma doença crônica ou perdendo seus relativos mais próximos. As maiores estratégias para fazer sucesso no mundo da literatura infanto-juvenil, no momento, são as histórias melancólicas. É exatamente por isso - e pela adaptação cinematográfica – que o livro Se Eu Ficar, de Gayle Forman, está tendo uma repercussão comercial enorme. O problema é quando a dimensão da propaganda não corresponde a da qualidade. Infelizmente, este livro se enquadra a esses casos.
Mia Hall é uma adolescente que, embora deslocada dos grupos sociais mais populares, tem uma vida perfeita. Um namorado famoso, uma bolsa na faculdade quase garantida, uma grande habilidade musical e uma melhor amiga inseparável. Até o momento que sua família sai para passear e um caminhão desgovernado bate contra o carro, resultando na morte dos pais e estado de saúde gravíssimo dela e do irmão mais novo. A garota fica presa entre a vida e a morte, o espírito vagando pelo hospital enquanto o corpo, em situação deplorável, é cuidado pelos médicos. Nem ela mesmo sabe se vai acordar e voltar a viver, embora uma das enfermeiras garanta que sobreviver/ficar é questão de escolha.
Os capítulos são compostos por dois momentos: primeiro, o presente, quando Mia vaga pelo hospital, vê seus parentes, namorado e amigos sofrendo. Depois, os flashbacks, quando ela relembra algum momento de quando estava viva. Como seu namoro começou, como seus pais se relacionavam ou como seu avô a tratava.
Embora a proposta de "relembrar o passado" seja bastante trabalhada, a impressão que o livro passa é a de “pegar o bonde andando”. Todas as relações já estão formadas e acabam se tornando um tanto superficiais. Por exemplo, o romance entre Adam e Mia surge de repente, não há um “porquê”, uma construção de relações que chegue ao afeto entre eles. Simplesmente se apaixonam de uma hora para outra. Dessa forma, o leitor não é convidado para “fazer parte”, torcer pelo casal e querer que fiquem juntos – pelo menos à princípio. As razões pelas quais eles se apaixonam são apresentadas de maneira bem panorâmica e singela até demais.
A falta dessa “verdade” em torno das relações faz com que pareçam forçadas e mentirosas demais. Todo relacionamento é composto por brigas, conflitos e pesares. Mas, no livro, todos se dão bem com todos, e isso acaba passando uma ingenuidade que desfavorece o andamento e a credibilidade da história.
Os destaques são os momentos que a personagem vaga pelo hospital. Gayle trabalhou muito bem a angústia de estar ao lado das pessoas que ama, vê-las chorando por sua causa e não poder fazer nada. A forma como esses momentos são descritos tem em vista fazer com que o leitor se identifique, coloque-se na situação da personagem e, é claro, se emocione.
A leitura é fácil e, em alguns momentos, infantil. Não creio que as relações mais superficiais e o linguajar menos rebuscado sejam falhas, são provas de que a autora buscou atingir um público bem específico, não mais abrangente como em “A Culpa é das Estrelas” ou outro drama em destaque. Ou seja, as chances de um jovem que goste de romances mais melosos se apaixonar por este livro é muito maior do que um fã de livros mais tensos como “Jogos Vorazes”. Apesar do livro deixar a desejar, as expectativas para a adaptação cinematográfica de Se Eu Ficar que estreia na próxima semana ainda são altas. O enredo do livro, de certa forma, parece se encaixar bem com uma proposta emocionante para as telonas. 


Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

    Comentários do Blogger
    Comentários do Facebook

6 comentários:

  1. Concordo plenamente contigo! Eu comprei o livro com uma expectativa enorme, já que vi o trailer e tinha me apaixonado, mas o book não é lá aquelas coisas. A história em si seria boa, mas o jeito que a autora escreve acaba deixando a desejar. Mesmo assim estou achando o livro adorável, ainda não acabei, mas até então está legalzinho.

    ResponderExcluir
  2. Eu já estava muito ansioso para ler esse livro, mas não sabia que ia virar filme e agora com sua resenha e sabendo que vai virar filme tenho que correr para ler.
    ótima resenha, abraços.

    ResponderExcluir
  3. li o livro ja, acabei na sexta e sinceramente concordo com vc e acho q o filme vai ser melhor q o livro

    ResponderExcluir
  4. Pela primeira vez, vou ver um filme no cinema sem nem um pouco de dor por não ter lido o livro. Sei lá, mas to com uma impressão que não vou ficar tão feliz com o livro.

    ResponderExcluir
  5. Quando eu fui ver A Culpa e das Estrelas , passou o trailer de Se eu ficar eu me arrepiei na hora , fui procura sobre o filme e descobri que tinha o livro. Gostei do livro , quando eu acabei de ler não sabia o que falar . Estou ansiosa para o filme acho que vai ser bem emocionante

    ResponderExcluir
  6. Comigo foi assim também, fui ver ACEDE na estréia ai derrepente começa a passar o trailer de Se Eu Ficar, quando percebi eu ja tava chorando só com o trailer, mas ainda n fui assistir Se eu ficar :/

    ResponderExcluir