American Horror Story: Freakshow | Ryan Murphy



Há quase cem anos atrás, um artista chamado Marcel Duchamp lançou uma obra de arte que não se tratava de nada mais, nada menos que um penico. Isso mesmo, um penico. E, apesar de já ter passado 100 anos e vários estudos sobre as intenções do artista, ainda há quem debata até que ponto aquele penico é arte ou é só uma loucura. Pois bem, assim como "A Fonte"de Marcel Duchamp, outras obras dadaístas e mais alguns quadros cheios de formas soltas, conclui-se que às vezes o insano e a arte podem casar muito bem. Isso repete-se até nos filmes e séries da cultura pop atualmente e, sem dúvidas, é o que o diretor Ryan Murphy tenta fazer no enredo da série American Horror Story
Tendo em vista o que deu e não deu certo nas temporadas anteriores, Ryan usou e abusou da bizarrice na quarta temporada: Freakshow (lembrando que as temporadas de AHS são independentes entre si). Como o próprio nome já diz, o cenário da vez é um Show de Aberrações e nada melhor para isso do que o tablado de um circo! 
A temporada começa quando as gêmeas siamesas, Dot e Bette Tattler (Sarah Paulson), são resgatadas de um hospital por Elsa Mars (Jessica Lange) para viverem no Freakshow que a mulher comanda. Lá é casa de um rapaz com mãos de lagosta, uma mulher barbada,  um garoto que come cabeça de galinhas e só sabe falar "beep", uma mulher minúscula, entre outros, cada um com a sua singularidade. 
O palhaço da história não vive no circo com os outros personagens. Na verdade, ele é um assassino peculiar e bizarro com um caráter cruel e em alguns momentos surpreendentemente dócil. As histórias dos personagens são relatadas conforme os episódios passam. 
Além das freaks, há um rapaz chamado Dandy (Finn Wittrock). Mimado além da conta, Dandy tem um gosto peculiar na hora de pedir os presentes para a mãe: ele gosta de colecionar aberrações. Ao não conseguir comprar o Freakshow gerenciado por Elsa, o caminho do jovem cruza com o da "aberração" que está fora do tablado, o já citado "palhaço assassino". 
O novo elenco escalado, além dos atores que já participavam, condiz com a proposta da temporada. Por exemplo, a mulher minúscula é interpretada pela menor mulher do mundo (que é muito fofa, por sinal). Praticamente todos os personagens são baseados em casos verídicos de mutações. 
Fica bem claro que um dos temas principais da temporada é a inclusão. Ao mesmo tempo que as aberrações brilham no palco por causa das suas diferenças, quando descem dele não é bem assim. São ofendidas na rua e expulsas de lanchonetes. O enfoque da série é deixar evidente o valor dos personagens: que elas são muito mais do que mãos de lagosta, pelos em um rosto feminino, duas cabeças em um corpo só. Todos nutrem sentimentos e brigam por justiça. 
Tudo que os personagens sofrem e a briga deles na busca por serem tratados como pessoas comuns é uma dura crítica ao preconceito tão exuberante na sociedade atual. Essa ideia do "sou muito mais do que isso" é uma luta diária de muitas pessoas que precisam provar serem muito mais do que uma cor de pele, uma religião, uma orientação sexual, entre outros. A mensagem que "American Horror Story: Freakhow" passa é que, muitas vezes, aquilo que os outros consideram bizarro é o ideal que nos fazem humanos. Por essas e outras, essa nova temporada faz de AHS um admirável show de horror.



Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

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1 comentários:

  1. SInceramente, eu não estava muito esperançoso com essa temporada quando assisti o primeiro episódio. Mas agora eu acho que essa está sendo e quem sabe até consiga superar a Asylum.

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