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Antes de tudo, um esclarecimento:
Michael Keaton, o ator principal do longa e que está excelente aqui, já
encarnou o Batman nos cinemas. E foi um sucesso. Porém, após o segundo filme do
homem-morcego, Keaton desistiu do personagem e entrou num ostracismo
profissional gigantesco. Há anos não fazia nada de peso, só participando de
produções sem peso algum. E o que isso tem a ver com o filme? Tudo.
O personagem principal de Birdman
é Riggan Thomson, um ator que durante anos interpretou o super-herói que
leva o nome do filme. Porém, sua carreira foi por água abaixo após a recusa de
continuar interpretando Birdman. E agora ele tenta montar uma peça baseada em
sua vida para se reerguer profissionalmente. Sim, leitor: é a vida de Keaton
escancarada e interpretada nas telas. E é essa a grande sacada do roteiro.
E essa sensação de que a vida
imita a arte também se prolonga com o personagem de Edward Norton, um dos
atores da peça de Thomson. Conhecido por ser um ator muito chato e cheio de
exigências, Norton possui um personagem idêntico no filme. Ele faz o que bem
entende na peça de Thomson e isso dá ao público uma atuação muito singular por
parte dele.
E o restante dos atores também
está bem. Emma Stone faz a filha de Thomson e possui uma ou duas cenas em que
tem espaço para trabalhar a personagem. E Naomi Watts e Zach Galifianakis,
produtor e amigo do personagem de Keaton, possuem atuações regulares.
Porém, apesar do roteiro
interessante e as boas atuações, o grande diferencial do filme de Iñarritu é o
método de filmagem. Assim como numa peça de teatro, o filme parece ser filmado
em apenas um take, como se não existissem cortes. Apesar deles existirem, isso
não tira o brilho da técnica, que teve de utilizar cenas longas e uma edição
fantástica.
Só que essa técnica de take
único, apesar de brilhante, também é o calcanhar de Aquiles do filme. Em
determinado momento durante as duas horas de projeção, o espectador se cansa. A
ilusão de que é uma cena só causa uma forte sensação claustrofóbica e um tanto
quanto desesperadora. Impossível saber se era essa a ideia de Iñarritu, mas
acabou por não ser tão positiva num espectro geral.
Outro ponto que incomodou foi a demasiada
necessidade crítica do roteiro. Ao invés de focar principalmente na liquidez da
fama, através do personagem de Keaton, dezenas de outras coisas entram na mira
do filme. O papel do crítico, problemas mentais, fragilidade na relação pai e
filho, relações amorosas conflitantes. Essas situações acabam embolando e
aumentando o cansaço que comentei acima.
Enfim, Birdman é um bom filme.
Possui boas atuações, um argumento de roteiro muito interessante e uma direção
ousada e original. Porém, peca por querer falar sobre mais coisas do que a
história permite e pelo cansaço gerado. É um filme que entrará para a história
do cinema, mas que, a meu ver, não mereceria levar o Oscar de Melhor Filme como
vem sendo especulado. Agora é esperar para ver.
Eu não tinha ouvido falar nesse filme até ele ser indicado ao Oscar, parece ser bem diferente e interessante, vou procurar assisti-lo.
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