Birdman | Alejandro González Iñarritu

Até semana passada, tinha certeza absoluta de que Boyhood, de Richard Linklater, seria o grande vencedor do Oscar 2015. Porém, após as premiações dos sindicatos, minha certeza se voltou para Birdman. Com a direção de Iñarritu, mexicano responsável por clássicos como Babel e 21 Gramas, o filme possui um tom ácido em seu roteiro, atuações memoráveis e uma técnica de filmagem poucas vezes vista. Um filme que pode não agradar todos, mas que entrará para os clássicos do cinema.
Antes de tudo, um esclarecimento: Michael Keaton, o ator principal do longa e que está excelente aqui, já encarnou o Batman nos cinemas. E foi um sucesso. Porém, após o segundo filme do homem-morcego, Keaton desistiu do personagem e entrou num ostracismo profissional gigantesco. Há anos não fazia nada de peso, só participando de produções sem peso algum. E o que isso tem a ver com o filme? Tudo.

O personagem principal de Birdman é Riggan Thomson, um ator que durante anos interpretou o super-herói que leva o nome do filme. Porém, sua carreira foi por água abaixo após a recusa de continuar interpretando Birdman. E agora ele tenta montar uma peça baseada em sua vida para se reerguer profissionalmente. Sim, leitor: é a vida de Keaton escancarada e interpretada nas telas. E é essa a grande sacada do roteiro.
E essa sensação de que a vida imita a arte também se prolonga com o personagem de Edward Norton, um dos atores da peça de Thomson. Conhecido por ser um ator muito chato e cheio de exigências, Norton possui um personagem idêntico no filme. Ele faz o que bem entende na peça de Thomson e isso dá ao público uma atuação muito singular por parte dele.
E o restante dos atores também está bem. Emma Stone faz a filha de Thomson e possui uma ou duas cenas em que tem espaço para trabalhar a personagem. E Naomi Watts e Zach Galifianakis, produtor e amigo do personagem de Keaton, possuem atuações regulares.
Porém, apesar do roteiro interessante e as boas atuações, o grande diferencial do filme de Iñarritu é o método de filmagem. Assim como numa peça de teatro, o filme parece ser filmado em apenas um take, como se não existissem cortes. Apesar deles existirem, isso não tira o brilho da técnica, que teve de utilizar cenas longas e uma edição fantástica.
Só que essa técnica de take único, apesar de brilhante, também é o calcanhar de Aquiles do filme. Em determinado momento durante as duas horas de projeção, o espectador se cansa. A ilusão de que é uma cena só causa uma forte sensação claustrofóbica e um tanto quanto desesperadora. Impossível saber se era essa a ideia de Iñarritu, mas acabou por não ser tão positiva num espectro geral.
Outro ponto que incomodou foi a demasiada necessidade crítica do roteiro. Ao invés de focar principalmente na liquidez da fama, através do personagem de Keaton, dezenas de outras coisas entram na mira do filme. O papel do crítico, problemas mentais, fragilidade na relação pai e filho, relações amorosas conflitantes. Essas situações acabam embolando e aumentando o cansaço que comentei acima.

Enfim, Birdman é um bom filme. Possui boas atuações, um argumento de roteiro muito interessante e uma direção ousada e original. Porém, peca por querer falar sobre mais coisas do que a história permite e pelo cansaço gerado. É um filme que entrará para a história do cinema, mas que, a meu ver, não mereceria levar o Oscar de Melhor Filme como vem sendo especulado. Agora é esperar para ver.



Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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1 comentários:

  1. Eu não tinha ouvido falar nesse filme até ele ser indicado ao Oscar, parece ser bem diferente e interessante, vou procurar assisti-lo.

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