A Vida do Livreiro A. J. Fikry | Gabrielle Zevin

Sabe quando você gosta tanto, mas tanto, de alguma coisa que, quando você vai falar sobre ela para outra pessoa, nem sabe como começar? É exatamente assim que estou me sentindo ao falar de A Vida do Livreiro A.J. Fikry. Eu já tinha ouvido muitos elogios a respeito desse livro e também acho a capa muito maravilhosa. A obra de Gabrielle Zevin é caracterizada pela simplicidade. Diálogos fáceis, narrativa ágil, menos de duzentas páginas, uma capa super clean e uma premissa inicialmente (inicialmente!) parecida com filmes lindos como UP! Altas Aventuras e Um Santo Vizinho. É essa despretensão que faz com que o livro não apenas corresponda com as expectativas, como também as supere. 

A história começa quando a nova representante da editora Pterodactyl Express, Amelia Loman, é enviada até a única livraria de Alice Island, a Island Books, para vender os lançamentos ao livreiro A. J. Fikry. O que ela não esperava é que seria extremamente mal recebida por ele. Mesmo assim, ela mantém a postura e tenta vender o seu livro preferido do catálogo: Desabrochar Tardio, sobre um velhinho que se casou aos 78 anos e ficou viúvo aos 80. A proposta é refutada e Amelia vai embora às lágrimas da livraria, já estressada com o destrato de A.J. 
Os gostos do livreiro são bem exclusivos: ele não vende livros sobre vampiros, com narradores post mortem, com cenários apocalípticos e, muito menos, sobre um casal de velhinhos. Odeia o Elmo (da Vila Sésamo) e não é nada fã de Edgar Allan Poe.
Nos capítulos seguintes, o narrador acompanha A.J. e conta que, há um ano, a esposa do livreiro morrera em um acidente de carro. O luto o tornara uma figura rabugenta e estúpida. Até mesmo as vendas da livraria, por mais que seja a única na região, começam a desabar. O personagem é tão rancoroso que eu tive muito trabalho até conseguir imaginá-lo como realmente é; um homem na faixa dos 30 anos. Minhas associações iniciais sempre estavam ligadas ao estereótipo do velhinho rabugento. 
Certo dia, ao fechar a loja, ele escuta um choro na sessão infantil. Vai até lá e encontra uma surpresa: alguém tinha deixado um bebê lá com uma carta pedindo para que o livreiro cuidasse da criança e fizesse com que ela pudesse crescer entre livros. A relação entre A.J. e a pequena bebê, Maya, é o que constrói as páginas do livro e o que reconstrói um lado do livreiro que havia desintegrado há um ano. O coração do livreiro vai ficando tão mole que até Desabrochar Tardio começa a fazer sentido para ele. 

Por mais que a história se resuma a 190 páginas, a construção dos personagens e dos relacionamentos entre eles não fica para trás. É tudo muito bem estruturado e sem forçar a barra. Tanto é que a primeira vez que Maya diz ao livreiro que o ama, ele responde que ela não pode sair amando qualquer pessoa tão repentinamente e acredita que isso é influência do Elmo. 
A narrativa é muito bem amarrada, cheia de referências que vão desde Grey's Anatomy e True Blood até Proust. A.J. é um personagem muito engraçado, um excelente protagonista que cativa o leitor até mesmo nos discursos mais grosseiros. 
É uma história de amor que caminha por várias vertentes, muito além do amor de casal. Fala do amor de família, do amor próprio e, principalmente, do amor aos livros. Apaixonar-se por A Vida do Livreiro A.J. Fikry é, também, relembrar porque nos apaixonamos por literatura. 


Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

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6 comentários:

  1. Nossa super interassante a historia! Nao tinha dado oportunidade pro livro porque achei que não valeria muito apena e não gostei muito da capa - sim eu julgo o livro pela capa -. Mas, estava enganado. Achei a historia surpreendente e com bastante caracteristicas legais! Nao conheço nenhuma obra da autora. Porém, quando descobri nos canais e blogs me interessei muito! Vou apostar na leitura. Obrigado Rafael pela resenha e a indicação maravilhosa.

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  2. Primeiramente gostaria de dizer que eu já havia visto a capa desse livro e a mesma não havia me chamado atenção alguma, nem cheguei a ler a sinopse...

    Mas ele acabou de entrar pra minha lista! *-* Nunca li e nem ouvi falar de nada do tipo, e esse definitivamente a história me deixou bastante curioso :3

    Parabéns! A resenha ficou ótima! \o

    Abs!

    http://leiturasilenciosaoficial.blogspot.com.br

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  3. Eu fico tipo ... Não consigo falar sobre Gone, é muita coisa, mas ao mesmo tempo é muita pouca coisa. Esse livro parece ser bom. Esse senhor tem 30 Anos ? E lembra o velhinho de Up, só que EU NUNCA gostei de Up.

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  4. Manoo, sério, eu fiquei super interessado por esse livro agora, enquanto lia a resenha eu ja tava tentando imaginar como são os personagens e me deu uma certa curiosidade pra saber mais sobre essa bebê Maya, a história dela sabe, ser abandonada numa livraria e tal, achei a história do livro interessante, pretendo ler futuramente com certeza :) #Igu

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  5. Eu nunca tinha ouvido falar desse livro e meu, parece muito bom. Não é a toa que você adorou tanto, quero, quero. É meu tipo de livro, sabe?! Fico imaginando o homem com jeito de velhinho rabugento kkk

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  6. Interessante história, livro diferente, vou procurar ler ele um dia, ótima resenha pra quem não sabia por onde começar :D

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