Adeus, Por Enquanto | Laurie Frankel

Quando eu recebi o livro Se Eu Ficar, junto dele veio um pacote de lencinhos. É como se o livro estivesse apontando pra você e falando: "Ei, moço, você vai chorar. Eu fui escrito com esse objetivo". O livro Adeus, Por Enquanto, de Laurie Frankel, não precisa distribuir lencinhos para deixar claro que estamos lidando com uma história mórbida. Todos os elementos mórbidos já estão na composição do produto.


1) A capa: um homem (com sombra) e uma mulher (sem sombra), sentados de costas um para o outro, separados por uma árvore. A árvore, segundo o dicionário de símbolos, representa um ciclo: vida, morte e recomeço. E, bem no meio das folhas, uma frase bem chamativa: E SE O AMOR CONTINUASSE ALÉM DA VIDA? 
2) Os comentários no verso do livro: o primeiro faz referência ao livro Um Dia, de David Nicholls, reconhecidamente triste. O segundo já é um alerta ao leitor para que ele prepare os lencinhos de papel. 
3) A sinopse: conta toda a história do livro, mas termina com uma frase coringa. "Os dois têm certeza que não podem viver sem o outro. Mas o que acontece se um deles é obrigado a isso?". 

Ok. Tudo bem. Mais um livro triste.
Mas, sabe qual é o problema? Adeus, Por Enquanto não é um livro triste! Não acontece nada do que a capa e a sinopse do livro indicam, pelo menos nos primeiros dois terços do livro. E, pior ainda, quando isso acontece, o livro cai em ruína. Uma história excelente, com uma premissa interessante, que perde-se com um final que já é dado de bandeja ao leitor na própria sinopse do livro. 
Mas, vou deixar um pouco meu incômodo de lado para falar da história. Sam é um nerd da computação que conhece Meredith por meio de um aplicativo de relacionamentos que ele mesmo desenvolveu. A fórmula que ele criou funciona tão bem que Sam é demitido, já que os clientes usavam apenas uma vez, encontravam o par ideal e não acessavam mais. Tudo bem, pelo menos ele arranjou uma namorada. 
O namoro de Sam e Meredith amadurece de maneira bem rápida, já que os dois personagens têm mais de 30 anos - apesar de que a autora narra de um jeito que parece que eles têm uns 19 ou 20 anos. Está tudo indo bem, dentro do possível, até que a avó de Meredith morre. 
A autora soube desenvolver o luto da personagem muito bem. Ela lembra da avó o tempo todo, associa qualquer imagem com algum gosto ou comentário dela. Incomodado com a situação da namorada, Sam decide oferecer uma frase de consolo nem um pouco usual: "Eu acho que consigo trazer sua avó de volta".
Então ele cria um programa de computador que reúne toooodo o banco de dados da falecida (desde conversas no facebook até video-ligações) e responde automaticamente de acordo com a reação dela em cada reação. Vou fazer uma comparação bem infeliz, mas vamos lá: o programa é como se fosse aquele robô Ed. (Se você nunca conversou com o Robô Ed, clique aqui e entenda do que eu estou falando.) Ou seja, todas as respostas que o programa/avó diz estão pré-programadas de acordo com o que ela responderia se estivesse viva. 
A primeira reflexão é: será que nós, seres humanos, somos tão previsíveis assim? Será que tudo que nós depositamos nas redes sociais é suficiente para gerar um banco de dados que nos represente? O livro afirma que sim. E o projeto de Sam e Meredith expande-se, outras pessoas começam a usar para conversar com seus entes queridos falecidos (EQFs), mesmo sabendo que não passa de uma máquina. 
O desenrolar da história a partir daí é genial. É uma dura crítica a todo esse apego que nós temos com os meios eletrônicos e como um computador, às vezes, desperta mais emoções em nós do que uma pessoa de verdade (eita!).
Toda minha revolta no começo da resenha é porque eu confesso que fiquei muito chateado em ler este livro tão bacana sabendo o final. Não só porque tal fato acontece - não vou dar detalhes, caso alguém ainda não tenha sacado o que vai rolar -, mas também porque isso não se desenvolve de uma maneira interessante. A parte III do livro (dividido em três partes) é insuportável. Tão mórbida e irritante que até os lencinhos de papel são dispensáveis. 

Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

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7 comentários:

  1. Haha! Eu ri quando você falou do Robô Ed :v

    A sua explicação para a capa do livro me deixou super curioso *-* Mas aí você falou sobre o desfecho e toda a minha curiosidade passou '~' Acho que todo livro deve surpreender, e não entregar o final assim, de cara :/ Chega a irritar.

    Eu gostei da resenha! Mas só por isso, não apostarei na leitura. :(

    Abs!

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  2. Não gostei do livro, nem com a resenha de vocês ... NEM SE O EDU DISESSE QUE É BOM! (-q)
    Eu não gosto de " não ficção ", eu estava esperando resenhas de livros de Ficção. LEMBREI AGORA, VÍDEO NOVO! :v

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  3. Fui direto visitar o Robo Ed, ainda não conhecia hahusauha.

    O livro me parece muito bom, pena que já possui spoiler do final, mas a história é muito interessante, bem diferente do que estou acostumado a ler, e é por isso que vou dar uma chance para ele.

    Eu me apaixonei pela capa e até achei que era um livro "sofrência", mas como descrito na resenha ele não possui tantas partes triste, e isso pra mim é ótimo hahuasuh.

    Eu adorei a resenha Rafael! Quero muito ler o livro e, me apaixonei pela história, apesar dos pontos ruins acho que vale muito a leitura. ;) Obrigado por apresentar este livro <3

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  4. Eu acho a capa desse livro maravilhosa, e depois dessa descrição detalhada achei que seria genial se corrrespondesse ao conteúdo do livro. (Você disse que não, mas matenho as minhas esperanças) Eu tenho muita vontade de lê-lo, acho a premissa muito interessante. O problema é que todas as resenhas e críticas que eu vej deizem a mesma coisa: A sinopse diz tudo que acontece no livro. Não gosto de ler um livro já sabendo ofinal. Mas não sei... Pode ser legal

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  5. Mds, esse livro, eu fiquei apaixonado por ele assim que vi essa capa e depois li a sinopse, eu amei mesmo de verdade, e sinto que assim que eu ler eu vou realmente me apaixonar por ele, por sua história e tudo o mais, é um livro que eu to muito ansioso mesmo pra poder ler, além de eu achar essa escritora muito boa, ela escreve coisas muito boas mesmo, logo comprarei para estar lendo ..
    Além de esse livro ter uma história que eu tenho certeza que com certeza vai me fazer chorar rs
    #Igu

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  6. Só pela resenha tõ tirando as mesmas conclusões que você. Acho que já saquei como que vai ser o desenrolar da história aí e só tenho uma coisa a dizer: que pena.

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  7. Que capa linda e bem feita!
    Eu curti bastante a sinopse e tudo mais, mas o seu "regular" deixa a gente com um pé atrás, apesar disso vou dar uma chance ao livro!

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