After: Depois da Verdade | Anna Todd

Em fevereiro deste ano foi lançado o filme de Cinquenta tons de Cinza. Como eu gosto de estar por dentro do que é assunto, peguei o romance para ler, mas não consegui passar da metade. Isso significa que Cinquenta tons é um livro ruim? Nããão. Isso significa que o livro foi escrito para um público bem, beeeeem, beeeeeeeeeeem específico, do qual eu tenho certeza que não faço parte. 

Quando terminei de ler After - Depois da Verdade, escrito por Anna Todd, continuação de After, fiquei com a mesma impressão: é um livro para um nicho que eu não pertenço. Na verdade, essa é uma sensação que eu já tive desde quando li o primeiro livro da tetralogia After. A única razão para encarar mais 600 páginas deste "romance" é porque o primeiro livro deixa, ao final, um gancho excelente para a história se desenvolver na continuação. É no final do primeiro livro que acontece a "verdade", para que a continuação, é claro, seja "depois da verdade". 

Para quem não conhece a história, recomendo que leia a resenha que eu fiz sobre o primeiro livro da saga (clique aqui). Mas, caso você queira ficar por aqui, vou resumir: Tessa é uma garota certinha que é corrompida ao entrar na faculdade e se apaixonar pelo malandro, Hardin. Ao final, é revelado algo muito destrutivo que abre portas para uma continuação que poderia ser primorosa com muita efetividade. 

Infelizmente, Anna Todd não soube trabalhar ao conectar o primeiro livro com o segundo, já que depois de sete capítulos tudo está de volta ao "normal"; à rotina chata do casal protagonista. Temos, então, um fraco ciclo vicioso: briga, discurso meloso, sexo. Briga, discurso meloso, sexo. Briga, discurso meloso, sexo... 

After, sem dúvidas, é uma saga que dá destaque para o lado perverso de um relacionamento. Com o passar dos capítulos, fica cada vez mais difícil torcer pelo casal principal, sendo que eles parecem estar remando contra a maré, sempre buscando motivos para uma nova briga.  

A impressão é que não há mais nenhum personagem além de Tessa e Hardin. Nada acontece com os personagens secundários e, se acontece, é retratado com muito desprezo. Até mesmo os personagens mais adultos, que poderiam colaborar trazendo certa maturidade à história, são idênticos entre si e não agregam quase nada.

O segundo livro não é narrado só por Tessa. Há, também, o ponto de vista de Hardin. Esse é mais um dos pontos que a autora não soube trabalhar bem, já que, apesar de ter dois narradores, a narrativa continua completamente unilateral. Enquanto Tessa diz "o Hardin é um idiota", o Hardin também diz "eu sou um idiota". 

E isso não acontece só na narração. Toda a maneira de pensar dos personagens, em geral, sempre está inclinada para o que Tessa quer, para o que ela deseja. A autora força tanto a barra para a protagonista que chega a ser praticamente impossível suportar o egoísmo gritante. 

Apesar disso, o livro não é de todo mal. Retratar o lado cruel de um relacionamento não deixa de ser uma forma de, também, retratar a realidade. É preciso apresentar para o público teen que nem tudo são flores em um relacionamento e o "príncipe encantado" está só nas histórias de ficção.
Há diálogos engraçados, principalmente entre Hardin e Smith. São momentos bem simples que aliviam, em partes, o desenrolar - e o enrolar - irritante do romance. 

O final do segundo livro também propõe uma deixa para que o terceiro seja interessante, mas prefiro não criar expectativas depois do que aconteceu na transição entre os dois primeiros. Creio que After - Depois da Verdade é feito para quem se apaixonou pelo anterior. Para quem ficou com um pé atrás, assim como eu, são só mais 600 páginas de mimimi e muito tédio.  

Obs. Fãs de After, não me matem! Esse é um ponto de vista de alguém que, definitivamente, não faz parte do público ao qual o livro foi escrito. Caso você tenha gostado da história, deixe um comentário justificando porque gostou que a gente pode bater um papo (bem saudável) sobre isso! :-) 

Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.