Livro: Alif - O Invisível, de G. Willow Wilson

Há uns bons anos, quando eu tinha aproximadamente 12 anos, a computação ainda era algo muito novo pra mim e estava começando a se tornar mais acessível às pessoas do mundo todo. Eu era do tipo curioso, mas também cauteloso e, apesar da idade, era fascinado por hardwares e softwares, drivers e drives, e já tinha um bom conhecimento na área. E, de fato, uma das coisas que mais me chamavam a atenção eram os hackers, sempre muito temidos e muito pouco conhecidos. Eu pesquisava sobre os vírus mais comentados e como eles eram aplicados, e até mesmo tentava "roubar" alguma informação aqui ou ali, mas o que fazia era tudo muito amador. A tecnologia superou expectativas e mudou o mundo. E, confesso que, em nenhum momento pensei que a tecnologia poderia evoluir tanto, a ponto de transformar conflitos sociais em conflitos digitais. Nunca pensei que o mundo cibernético fosse além do furto de informações e partisse pra manipulação pessoal, uma vez que os computadores hoje em dia são a base de tudo que fazemos e vivemos. Uma evolução com zilhões de terabytes de prós e contras. Uma nuvem sem chuva. Um caminho sem volta.

A história escrita por G. Willow Wilson fala sobre Alif, um garoto de apenas 14 anos que desenvolve programação hacker para pessoas do mundo todo, maqueando sites proibidos e desenvolvendo defesas virtuais na rede. O trabalho que ele desenvolve é tão sigiloso quanto seu relacionamento com Intisar, a garota com quem quer se casar mas, infelizmente, não pode, por ser de uma família de casta/ classe social diferente.
Certo dia, Alif se encontra escondido com Intisar, como de costume. A menina vestida dos pés a cabeça logo revela que, obrigada pelo pai, em breve terá de se casar com um outro rapaz capaz de oferecer os dotes que uma mulher merece. E, por isto, Intisar implora para que ele suma para sempre de sua vida, jogando fora todos os planos que um dia eles desenharam juntos.
A partir disto, Alif resolve atender seu último pedido criando um software capaz de torná-lo invisível para Intisar. Porém, a aplicação que ele desenvolve vai muito além do esperado, atraindo a atenção da Mão, o correspondente do governo responsável por detectar e prender hackers que tentam desenvolver algo além do poder estatal, colocando em risco sua vida e as das pessoas mais próximas.
Como se isso não bastasse, logo em seguida Alif recebe um livro misterioso que pode dispôr de informações muito valiosas, principalmente se estiver em mãos erradas.

O que mais me surpreendeu de início foi o fato de que não estamos falando de um livro infanto-juvenil, mas sim de um jovem-adulto de peso. As palavras são fortes e muito bem estruturadas, criando diálogos muitas vezes adultos e impróprios para adolescentes com menos de 15 anos. Mas, Alif - O Invisível traz algo muito além de um YA ou uma simples distopia em que o governo disputa o poder digital mundial. Ele traz uma quantidade enorme de informações e conhecimentos gerais.

Por isso, esse tipo de livro precisa ser digerido com calma. A história dispõe de um enredo extremamente rico onde poucas palavras e expressões árabes contextualizam a trama de modo a nos imergir num mundo completamente distante e diferente do nosso. Um lugar onde a religião é a base de uma sociedade, as crenças estão cravadas nas paredes e nas pedras, os trajes são meticulosamente impostos, as mulheres são inferiores, o machismo é comum, o misticismo é forte e, ainda assim, a tecnologia avança monstruosamente. Isto tudo mostra que, independentemente do avanço do tempo e da tecnologia, os costumes são praticamente imutáveis e traçam a cultura de um povo refém de suas ideologias. Além destes, são tantos assuntos tratados e tão bem encaixados no desenvolvimento da história que refletem a vivência da autora e o enorme domínio da mesma sobre a sociedade do Oriente Médio.

“Então talvez nós não vivamos em tempos comuns – disse o xeque [...]”


Mesmo que o livro seja uma potencial adaptação cinematográfica, talvez um filme não seja o suficiente para mostrar toda a magia existente neste livro. As cenas transpassam as ações e desenvolvem também a dor, o medo e a dúvida dos personagens muito além do que estou acostumado.

Eu, sinceramente, não acho que esta história - apesar de incrivelmente boa - faça tanto sucesso no momento. Eu apostaria daqui a alguns anos, quando os jovens leitores das distopias atuais estarão mais adultos, mas sem tanta convicção. O livro é sim incrível, e merece ser alvo de críticas positivas. O trabalho e a qualidade de escrita da G. Willow Wilson surpreendem qualquer tipo de leitor e tornam este mais um livro que eu super recomendo, principalmente pra quem quer aprender, conhecer e compreender outras culturas do mundo em que vivemos, apenas lendo.



Cristiam Oliveira

22 anos, se formou em administração mas gosta mesmo de comunicação. Tem uma paixão enorme por cinema e adora, sobretudo, os livros. É muito organizado, calmo, chato e grudento; se apega muito fácil às pessoas que gosta e, às vezes, é extrovertido. Adora mudar e criar coisas; é muito curioso e persistente em tudo que faz. Gosta de cachorro mas prefere gatinhos (inclusive tem dois!).

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1 comentários:

  1. Sério, gostei muito desse livro! Envolve várias coisas que eu gosto: Hackers, Mistério, um pouco de distopia, e essa capa...preciso nem falar nada *0* .
    Já tá em 2° na minha lista, só atrás de Sob a Redoma - pq Stephen é Stephen né kkkk

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