Livro: O Sol é para todos, de Harper Lee

Livros de Direito, quando bem escritos, são deliciosos. Vide a obra de John Grisham, por exemplo. Ele produz livros com histórias extremamente complexas e imersas em conceitos jurídicos mas que, quando lidas, fluem de uma maneira impressionante.

Este é o caso, também, do clássico O Sol é para Todos, da norte-americana Harper Lee. Lançado em 1960, nunca tinha tido a oportunidade de ler a obra, apesar de sempre ouvir falar bem. E agora, quando consegui colocar as mãos em um exemplar, fiquei fascinado e encantado pela história e narrativa de Lee.

O livro é narrado sob a perspectiva de Scout Finch, uma garotinha que vê o racismo em sua cidade cada vez mais forte e presente. Essa sensação atinge o ápice, porém, quando seu pai Atticus Finch — um importante advogado — começa a defender um homem negro acusado de estuprar uma garota branca.

Além disso, o livro acompanha as relações das pessoas da vizinhança e da família de Scout e Atticus, como a tia e o irmão Jem.

Primeiro: a ótica de Scout sobre os acontecimentos é de uma delicadeza inigualável. Dizem que Lee, na verdade, queria contar a história de maneira impessoal ou sob a visão de Atticus, o pai. Um editor, então, disse para ela manter a história, mas com a ótica da menina. Ficou perfeito. Harper Lee conseguiu entrar na mente de uma garota e passar todas as surpresas que um ambiente racista transmite.

Os personagens secundários também são incrivelmente bem descritos e construídos. Até mesmo vizinhos que, em tese, possuem uma relevância menor para história, surpreendem com suas histórias e personalidades fortes. No meio do livro, peguei-me querendo saber o que estava acontecendo com a vizinha fofoqueira.

Outro ponto altíssimo é o que concerne as cenas do júri. Quando Atticus começa a defender o homem negro — acusado sumariamente pela pessoas locais —, as descrições, diálogos e cenas são excepcionais. Díficil ver algo tão bem fundamentado.

E o final é um soco na sociedade, no racismo, na falta de ética. É assustador, aliás, como o livro continua atual 55 anos depois.

Não é a toa, com tudo isso, que o livro foi um dos maiores fenômenos editoriais da história e deu origem ao filme que levou três Oscar.

E agora, Harper Lee, com 89 anos, acaba de lançar nos EUA a continuação da história — traduzida no Brasil para Vá, coloque um vigia —, com Scout adulta e Atticus amargurado e racista. Já se tornou o maior fenômeno editorial da Barnes & Nobles, maior cadeia de livrarias dos EUA.

Enfim, O Sol é para todos é real, cruel, delicado e, acima de tudo, é um relato frio e cruel sobre a sociedade. E que, infelizmente, continua atual tanto tempo depois.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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2 comentários:

  1. Sempre ouvi as pessoas falando muito bem desse livro, mas apenas depois de sua resenha que eu realmente quis ler o livro. Não me lembro de ter lido algum livro do gênero mas mal posso esperar para começar. 😃

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  2. Ouvia sempre coisas boas sobre livros assim, já tive indicações de parentes e até mesmo de alguns amigos virtuais, eu pretendo ler, quando terminar lá que tenho.

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