Normalmente, passo batido por aquelas frases clichês nas capas de livros que pegam um trecho aleatório de um resenha ou de uma declaração de algum escritor. Com A Garota no Trem, porém, o caso é diferente. Ao olhar a contracapa, me deparei com a seguinte colocação: "Eu simplesmente não conseguia largar o livro."
Apesar de simples e banal, a frase foi dita pela única escritora que me faz ficar acordado por toda a noite: Tess Gerritsen. Quis o livro na hora. Queria saber quem fazia minha escritora de noites insones não largar um livro. Sobre o que é aquele livro? Quem são os personagens? Quem escreveu?
Bom, a obra, em um primeiro momento, já impressiona. Vejo, logo nas primeiras páginas, que é tudo muito original: Rachel, uma garota com problemas com álcool e depressão, pega todo dia um trem. Ao pegar esse trem, ela passa por uma casa que abriga um casal. Sem saber muita coisa sobre eles, a garota começa a imaginar os nomes, idades, rotina e outros hábitos do marido e mulher. Aos poucos, esse exercício imaginativo vira um obsessão.
Tudo piora, porém, quando Rachel descobre que a esposa em questão é dada como desaparecida alguns dias depois de vê-la no quintal da casa aos beijos com um desconhecido. Querendo ajudar com o desaparecimento, ela começa a palpitar na investigação - chamando a atenção dos policiais - e a ter um contato maior com o marido, afim de ajudá-lo a superar a suposta perda.
Enfim, temos nosso livro. A história, no começo, causa estranhamento. A autora Paula Hawkins divide tudo por períodos do dia (manhã, tarde, noite), criando pequenas cápsulas temporais de narrativa. Não é fácil acostumar. Afinal, é uma escrita que mistura a fórmula de diário com thriller. Apesar de estranho, é um formato muito original e criativo. Ponto para a coragem da autora.
O ponto alto de toda a obra de Hawkins, entretanto, é o desenvolvimento da garota no trem, Rachel. Toda sua estrutura psicológica é muito bem construída e elaborada, tendo toques de Garota Exemplar e Lugares Escuros. Os problemas envolvendo o ex-marido, por exemplo, são peça fundamental nesta elaboração de personagem. Ajuda a compreender toda a dor, sofrimento e angústia que Rachel está passando.
A conclusão de toda história também impressiona. A autora consegue criar um cenário inimaginável e que surpreende muito o leitor. É intenso e muito dramático - num bom sentido, claro. É um daqueles finais que faz prender a respiração e que faz pensar nele por muitos e muitos dias.
Aliás, os direitos da obra já foram vendidos para a DreamWorks e um filme já está a caminho.
Enfim, A Garota no Trem é um ótimo thriller. Original, bem elaborado e com acontecimentos surpreendentes, ele irá agradar aos fãs de Gillian Flynn, Stephen King, Cara Hoffman e Jo Nesbo. Só que se prepare! Como dito por Gerritsen, é impossível largar o livro.
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