Convergente | Veronica Roth

Se tem uma coisa que eu percebi lendo os três livros da saga Divergente é que Veronica Roth é fã de metáforas. Fãzona mesmo, do tipo que coloca um cigarro apagado na boca só pelo prazer de ter algo que mata entre os dentes e não ceder o poder da fatalidade. Por trás de toda o sistema de facções e - destaque para o terceiro livro, Convergente - há uma crítica muito forte à natureza humana, em como a busca pela perfeição é desgastante e inválida, sendo que os defeitos fazem parte de cada um e, mais, são tão essenciais que, se tirados, perdemos algo junto. Perder a covardia pode desengatar na perca da humildade, ser sincero o tempo todo, pode tornar as pessoas arrogantes, entre outros. Toda sociedade idealizada por Veronica Roth é uma grande metáfora da identidade humana.
O livro começa alguns meses depois que o recado de Edith Prior sobre o que há atrás da cerca foi divulgado. Evelyn é a governanta da cidade e aboliu todo o sistema de facções. Apesar disso, qualquer pessoa que vá contra o pensamento dela e dos sem-facção, é dado como rebelde e é repreendido. Sendo assim, a liberdade continua uma utopia para o desagrado, não só de Tris, como de um grupo que se intitula "Os Leais". Junto desse grupo, Tris, Tobias, Christina, Uriah e os outros partem na briga pela liberdade e pela busca do que há além da cerca. 
Ao contrário dos desfechos de sagas como "Jogos Vorazes" ou "Harry Potter", o livro Convergente, último da saga "Divergente", não traz um conflito, traz respostas. Por isso, é tachado entre os fãs como o livro mais parado entre os três. Todo o universo e toda a genealogia do sistema de facções é explicado neste livro, por isso os diálogos e reuniões acontecem muito mais do que momentos de pura ação. Não é tão acelerado quanto o final de Divergente e nem tão lento quanto Insurgente
Com uma escrita impecável (a mudança é drástica do primeiro livro para o terceiro) e em uma perspectiva dupla, o livro é narrado em primeira pessoa tanto por Tris quanto por Tobias. Confesso que tive um certo preconceito quando vi que a história seria contada assim, mas a autora conseguiu trabalhar muito bem. Em alguns momentos, Veronica Roth não se preocupou tanto em criar uma identidade única de cada personagem na hora de contar a história - principalmente quando conta a morte de alguém, as reações dos dois são sempre as mesmas, relembrando momentos passados com o personagem morto. Mas, em outros, trabalhou nisso muito bem, mostrando uma vulnerabilidade em Tobias ou a teimosia extrema de Tris. 
E bota teimosia extrema nisso. Tris é uma das personagens mais teimosas que eu já conheci. Mas, sinceramente, não acredito que seja um ponto fraco da autora, nem do enredo, nem do livro, nem de nada. É um ponto característico. Se ela não fosse teimosa, fosse quietinha e comum, não teria história e Tris não seria uma personagem memorável. Através do jeitinho teimoso, a identidade de Tris é criada e acontecem fatos para que, agradando ou não, ela seja lembrada.
Isso acontece tão bem que, quando Tris toma uma decisão arriscada, não chega a ser tão absurdo porque, por três livros, ela foi assim. É óbvio que ela assume riscos, ela sempre foi audaz. O final da trilogia ganha destaque pela coerência com os dois primeiros, amarrando muito bem a história e trazendo um encerramento épico e emocionante para a "guerra dos humanos contra a humanidade" criada por Veronica Roth. 

Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

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1 comentários:

  1. Eu sou fã da trilogia toda, e confesso que não gostei muito de Convergente. Em Divergente eu gostava muito da construção psicológica do Quatro/Tobias, mas em Insurgente, e principalmente em Convergente, ele chega a se tornar chato. O final da trilogia foi bom, mas não era o que eu queria *SPOILERSSS* porque a Tris sempre foi a minha personagem favorita, e nesse livro eu trocaria a morte dela pela do Quatro fácil fácil, mas não aconteceu :( Me prendendo do começo ao fim, a trilogia foi maravilhosa! Agora é esperar sair "Os contos do Quatro"
    Abraços!

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