Um Corpo na Neve | A. D. Miller

“Na Rússia não há histórias sobre negócios. E não há histórias políticas. Não há histórias de amor. Só há histórias de crimes”

Sou completamente fascinado pela Rússia. É o país que, com seu frio, conseguiu derrotar Hitler e Napoleão. É o país que tem e teve uma série de governos aterrorizantes: a era dos czares, Stalin, Gorbachev e, atualmente, o intrépido Vladmir Putin. É o país do frio destruidor. E é, acima de tudo, o país das bizarrices. É só colocar Rússia no Youtube e uma série de vídeos non-sense surgirão, principalmente de acontecimentos no meio de alguma estrada.
E é por isso – a Rússia e suas bizarrices – que Um Corpo na Neve é tão interessante. O personagem principal, Nicholas Platt, é apenas razoável. Não tem carisma e não senti dó do sofrimento dele em momento algum. Além disso, a história é apenas intrigante: Platt se apaixona por Macha, uma russa que conhece numa estação de metrô russa. Tudo vai bem, planos são feitos, até o momento em que a jovem russa surge com sua tia idosa e pede ajuda ao jovem londrino Nicholas para ajudá-la com toda a gigantesca burocracia russa.
Além dessa trama principal, o trabalho de Nicholas, que é aprovar ou não crédito a empresários, é desenvolvido ao fundo. E essa parte, extremamente maçante, acaba por quebrar o ritmo da história dele com Macha.
Outro ponto negativo é a expectativa. Vendo a capa, o título e a sinopse, achei que o livro envolveria dezenas de crimes bizarros russos, com chefões da máfia ou algo assim. Mas não. O tal corpo na neve é algo extremamente secundário. Ou seja, caso você espere um livro policial mesmo, não recomendo. Ele acaba se mostrando como um suspense psicológico, apenas.
Então, você deve estar se perguntando: o livro é ruim, certo? Não. E isso só acontece graças a duas coisas: a escrita precisa de A. D. Miller e a Rússia. O livro acaba por ser interessante, como disse lá no começo, por causa desses dois fatores. O autor, iniciante no ramo da ficção, é um jornalista. E, assim como outros jornalistas literários, a sua escrita não deixa margem ao desnecessário. É curta, breve, simples, objetiva. E isso faz com que a leitura, mesmo tendo situações pouco dinâmicas, acaba por ser leve e fluída.
Porém, o ponto alto é um dos personagens: a Rússia. Sim, esse é um daqueles livros em que ambientação acaba por fazer parte do enredo de forma tão intensa, que é impossível não chamá-la de personagem. E o país dá todo o gás necessário ao enredo e, principalmente, a Nicholas. Caso a história em outro país, seria um desastre total.
O livro também acaba por ganhar mais alguns pontos com o final que, apesar de extremamente previsível, é muito bem contado e amarrado com o restante da história. Alguns personagens e tramas secundárias, como o vizinho de Nicholas e o tal corpo na neve citado apenas no começo do livro, fazem total sentido e se encaixam perfeitamente.
Enfim, Um Corpo na Neve é repleto de falhas: personagem principal problemático, má encadeamento de histórias e alta expectativa antes da leitura, não compensada durante. Porém, a história acaba se mostrando interessante com a tão fantástica Rússia de Vladmir Putin. E, com felicidade, acabo conhecendo ainda mais este diferente e inusitado país.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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2 comentários:

  1. Não gostei e pela a resenha o livro parece horrível

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  2. Esse vou passar longe!
    De forma alguma faz meu estilo de leitura.

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