Vermelho Como o Sangue | Salla Simukka

Sou completamente obcecado por literatura nórdica. Lars Kepler, Jo Nesbo, Stieg Larsson. É uma escrita direta, sagaz e, acima de tudo, instigante. Desafio a qualquer um ler um livro de algum desses autores e não se sentir envolvido pela trama. É impossível. Levado por essa sensação, interessei-me por Vermelho como o sangue, da finlandesa Salla Simukka.
A história gira em torno de uma operação mal sucedida da máfia: eles jogam no quintal de um policial uma bolsa cheia de dinheiro – e com sangue nas notas – para amedrontá-lo. Porém, quem acaba achando a bolsa é a filha, Elisa, juntamente com dois amigos bêbados. Depois de muitos acontecimentos, o trio também acaba envolvendo Lumikki An dersson, uma garota inteligente e solitária da escola. Ela, então, se torna o cérebro da operação para descobrir o que o pai de Elisa tem a ver com o dinheiro.
Os problemas do livro já podem ser vistos no resumo que escrevi acima. A trama é um tanto quanto surreal. Lumikki – nome em sueco da Branca de Neve – parece ter poderes extraterritoriais. Parece o Chuck Norris, só que sem barba e em idade escolar. Consegue fugir tranquilamente da máfia, de tiros, entrar em festas de mafiosos, fugir de geladeiras trancadas. É inverossímil. Ao contrário de Lisbeth Salander, de Os Homens que não Amavam as Mulheres, por exemplo. Ela possui uma inteligência fora do normal, mas que é explicada. Além disso, ela não é imbatível. Sofre, tem momentos tensos. É uma personagem palpável, ao contrário de Lumikki.
Outro ponto que me incomodou demais é a pouca profundidade dos personagens. Lumikki é esse ser com poderes absurdos e não se explica, de fato, o motivo. Elisa é chatíssima. Quando ela surgia, queria passar logo. E os outros dois amigos, Tukka e Kasper, são dispensáveis pra trama. Fazem alguns comentários e somem.
A ideia da autora de ligar a história de Lumikki com A Branca de Neve também não dá muito certo. As analogias feitas não surtem efeito e se tornam passagens desconexas. Chega a ser pretensiosa e desesperadora a necessidade da autora de fazer conexão com a história da princesa dos irmãos Grimm.
Porém, é claro, como em qualquer coisa, a história tem alguns pontos positivos, fazendo com que não se torne péssima. Os acontecimentos são bem intrincados, a leitura é rápida e, apesar de tudo, a autora possui uma escrita leve e fluída. E, só.

Enfim, Vermelho como o sangue não convenceu. Personagens fracos e situações inverossímeis, além de uma escritora que parece querer ser mais do que é. Não funcionou. Segundo a editora, outros dois livros da série serão lançados. Espero, sinceramente, que a qualidade melhore e os personagens não sejam tão mal construídos. É uma história com potencial. Só falta ser bem formulada e construída.

Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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