A Casa Assombrada | John Boyne

A narrativa de John Boyne sempre me chamou a atenção pela sua incrível capacidade de contextualização. O Menino do Pijama Listrado traça a tensão da Segunda Guerra Mundial, assim como O Ladrão do Tempo percorre uma linha do tempo que chega até os dias atuais. Em A Casa Assombrada, ele foi um pouco mais ousado. Decidiu deixar um pouco - não muito - de lado as aulas de história para explorar o universo dos livros de ficção. Por ser uma obra cheia de referências à bibliografia de Charles Dickens, acredito que quem está habituado com a literatura inglesa vá apreciar bem mais.
Depois de qualificar O Ladrão do Tempo como o melhor livro que li no ano passado, não poderia esperar menos de John Boyne quando peguei A Casa Assombrada para ler. Minhas expectativas tão altas resultaram em surpresa e certo desagrado ao saber que o autor precisou sair completamente da sua zona de conforto para escrever esta obra. Meu receio se confirma em alguns momentos, com o suspense fraco demais para um livro de "terror", mas é refutado quando o escritor mantém a excelência na forma de escrita.

Anos depois da morte da mãe, o pai de Eliza Caine também morre. Cheia de contas para pagar, a jovem aplica-se para um emprego de governanta oferecido em um anúncio no jornal por um suposto H. Bennet. Ao chegar na casa onde vai trabalhar, ela descobre que a proposta impressa era desinformativa até demais. A casa, em Gaudlin Hall, era habitada por apenas duas crianças - bem sinistras - e toda vez que o nome da residência era citado, Eliza era recebida com desconforto pelas pessoas na cidade. Sem saída, a personagem precisa se adaptar a situação nada convencional, descobrir quais segredos aquela casa e as crianças escondem, lidar com "presenças" sobrenaturais e, ainda mais, equilibrar tudo isso com o luto.
A premissa da casa assombrada clichê é explorada de maneira, também, clichê. Não é um livro que vai te fazer dormir com a luz acesa, mas também acredito que essa não tenha sido a intenção de Boyne. Logo, o terror é bem fraquinho e até um pouco infantil. Mesmo quando imagino as cenas reproduzidas fora das páginas do livro, não consigo considerá-las minimamente assustadoras.
Conforme as situações sobrenaturais começam a acontecer em Gaudlin Hall, Eliza começa questionar as suas próprias crenças e visão de mundo. Infelizmente, gostaria que isso tivesse sido um pouco mais aprofundado. O enfoque principal dessa transformação da protagonista é em um dos últimos capítulos, em um diálogo muito interessante e cheio de críticas à forma de pensar da Igreja no século 19. Mas, por ter sido tão pouco explorado, o diálogo e o capítulo ficam desconexos com o resto do livro.
Como é de praxe na escrita de John Boyne, a construção de personagens, cenários e situações adaptam-se perfeitamente ao tempo da história. Eliza tem pouco mais de 20 anos (no século 19, muitas pessoas já estavam muito bem casadas com essa idade) e é uma solteirona. Os preceitos machistas da época são bem retratados na forma como Eliza reage diante dos homens; fica mais retraída e idealizando romances mesmo com aqueles que acabou de conhecer.
O livro só não fica para trás quando o quesito é a escrita de John Boyne, leve e pesada ao mesmo tempo. Leve pela leitura acessível e rápida, sem sentenças rebuscadas e prolixas. Pesada, por ser repleta de reflexões e questionamentos.

A impressão que fiquei de A Casa Assombrada é que John Boyne quis se reinventar, mas ficou com um pouco receio de ir longe demais. Mesmo assim, é uma leitura leve e rápida que vale a pena ser apreciada, que talvez seja bem recebida por aqueles que ainda não conhecem Boyne e não esperam muito de seus livros.


Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

    Comentários do Blogger
    Comentários do Facebook

6 comentários:

  1. Estou mega ancioso para ler! Eu achava que era um livro um pouco melhor e deixei em prioridade, mas a resenha me fez pensar melhor... Aprecio muito as obras de Boyne e vou ainda dar chance ao livro, sem prioridade, e espero me surpreender. Ameii a resenha Rafael! 💕

    ResponderExcluir
  2. Dele eu só li o menino do pijama listrado e gostei bastante.. por não criar muitas expectativas em relação a seus livros, provavelmente vou gostar deste também...

    ResponderExcluir
  3. Odeio terror, qual a lógica em assistir/ler algo pra sentir medo? '-' Eu não consigo mesmo, e os filmes de terror que assisti dormi em todos, geralmente essas histórias de terror nunca tem uma história interessante, nada bem elaborado, apenas algo que assuste, gosto de histórias que me prendam.

    ResponderExcluir
  4. Eu não sou fã de livros de terror, mas com certeza esse livro é uma ótima indicação para minha melhor amiga .. rs
    Nunca li nada do autor, pois depois de ver o filme 'O menino do pijama listrado' fiquei com medo de chorar mais do que um bebê. hahah Eu adoro rir/chorar com livros, mas cara, aquele filme é muuito triste. Imagina o livro?
    Mesmo assim sei do potencial do autor, e pretendo ler (outra coisa!) dele em breve.
    Beijos,
    Carol

    ResponderExcluir
  5. Oi Rafael amoo os livros do Jonh Boyne ele realmente tem uma ótima escrita bem fluida e gostosa de ler, só nao me empolguei com esse livro por ser de terror como ja disse nao gosto mto do genero, mais só pq e do Jonh eu leria, e uma pena vc nao ter gostado mto ate que a historia me chamou a atençao, vou ver se leio e tirara minhas proprias conclusoes.. ótima resenha bjoos

    ResponderExcluir
  6. Olá!
    Amo todas as publicações dessa editora, por causa da diagramação e pelas capas. Esse é um livro que quero na minha estante, embora eu não tenha curtido a "premissa" dele. Assim, eu não sabia que fosse de terror, e não é um dos gêneros que eu abordo. Porém irei ver para comprar, hahah
    Ameei a resenha, você escreve super bem (Bem detalhado sem spoiler ;)

    Abraços
    www.gemices.com.br

    ResponderExcluir