Arrecife | Juan Villoro

Arrecife, livro do mexicano Juan Villoro, foi considerado um dos melhores lançamentos literários de 2014, sendo igualado a obras como O Pintassilgo e A Festa da Insignificância. Só por isso, minha curiosidade já foi atiçada. Porém, ela aumentou ainda mais quando li a interessante sinopse do livro.

A história se passa num hotel mexicano, o La Piramide, que promove momentos de tensão aos hóspedes. Sabe aquele favela tour que existe no Rio de Janeiro? Então, é algo parecido. As pessoas do resort são submetidas a sequestros e se infiltram ao submundo do narcotráfico mexicano para viverem momentos diferentes em suas vidas. E, em tal local, acompanhamos o personagem Tony Góngora.

Góngora é um ex-viciado em drogas e que tem graves problemas de memória devido ao uso de tais substâncias. Tentando se recuperar, é convidado pelo amigo Mario Müller, um dos responsáveis pelo hotel, a passar um tempo no local. E tudo vai muito bem. O hotel está cheio de gente, Tony engata um romance com uma das hóspedes e as pessoas são sequestradas e devolvidas normalmente, tomando suas doses de violência e vida real. Porém, tudo muda quando um dos funcionários é encontrado morto. E é neste momento que Arrecife mostra todo seu potencial.

Villoro mistura, com maestria, o mistério a ser resolvido, a vida conturbada de Góngora e, principalmente, os problemas sociais do México. E isso faz com que o livro saia do lugar-comum de outro livro policial qualquer. O estilo de história me lembrou muito Mario Vargas Llosa. É um retrato social, mas com o atrativo de uma história de suspense. Livro para todos os gostos.

Porém, o livro mostra o quão importante foi na carreira de Villoro justamente pelo personagem de Góngora. Seus problemas e sua relação interpessoal com os outros hóspedes do La Piramide – que também pretendem se desligar de algo, assim como Tony o faz com as drogas – entra em foco e prende o leitor de maneira definitiva.

A história fica tão intensa a cada virada de página – com o relato da sociedade mexicana, com o crime e com a vida de Tony – que é impossível largar o livro. E isso a despeito da falta de fôlego que o livro tem na metade da leitura e até a narrativa lenta demais em alguns pontos. Nada disso compromete. A ideia original é muito interessante e o personagem de Góngora muito bem construído.

Enfim, Arrecife é um bom livro e que justifica sua presença em listas de melhores obras de 2014. É intenso, faz uma interessante crítica social e prende o leitor do começo ao fim. Tem problemas narrativos, mas nada que não faça a leitura valer a pena. Villoro, sem dúvidas, entra na lista de grandes escritores mexicanos da história.

Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.