Com um título um tanto
tendencioso, uma entrevista com Ruth Rocha ficou polêmica na internet porque
ela disse que Harry Potter não é literatura. Eu, assim como muitos leitores,
torcemos o nariz ao ler essa afirmação, pois a história fez parte de nossas
vidas. Mas, afinal, no Brasil o que é literatura? Apenas o realismo? Apenas os
clássicos? Porque muita gente ainda rejeita livros de fantasia,
sendo que, em alguns países eles têm uma participação enorme?
Decidi com essa discussão toda,
montar uma lista com livros de fantasia nacionais, mostrando que nós temos um
time muito bom de escritores.
O principal livro de William é O Véu, constituído por dois volumes. A história é sobre Ana, uma garota que teve uma infância cheia de magia
ao ouvir as lendas que suas tias e seus avós lhe contavam sobre magos e bruxas,
na cidade Três Corações, em Minas Gerais. Um dia, a casa dela
acaba sendo incendiada e suas tias morrem. Tendo certeza que presenciou um ato de bruxaria, ela passa
a infância e adolescência tomando remédios, indo a psicólogos e acaba sendo
chamada pelo outros de InsAna por acreditar em algo que todos se recusam. É
nessa época difícil que ela conta com a amizade de Ian e os dois mal
sabem, que todos os pesadelos que os afligiam, estavam para voltar com
tudo.
Um dos meus livros nacionais favoritos! O mundo fantástico que
William cria é simplesmente sensacional. Há bruxos, lobisomens,
demônios e outros seres fantásticos. O começo do livro é um pouco clichê e
devagar, quase pensei em desistir. Ainda bem que persisti, porque o desenrolar
do enredo melhora muito. O segundo livro é tão bom quanto o primeiro.
Só tive a oportunidade de ler
Neon Azul de Eric, mas já foi o suficiente pra saber que é um escritor
promissor. Com um tom sombrio e boêmio, Eric possui vários livros com tema
fantástico que se passam na calada da noite, com um estilo noir. Exorcismo,
amores e uma dose de blues fala sobre demônios, lobisomens, exorcistas e
necromantes. O livro conta a história de Tiago Boaneges, um exorcista que
precisa concluir um trabalho e alcançar a redenção. Seu trabalho é ir até uma
cidade chamada Libertá e exorcizar uma Musa que está no corpo de uma cantora
adolescente.
Seria impossível fazer uma lista
de livros de fantasia e não colocar Draccon no meio. Além de ter escrito vários
livros nesse tema, foi um dos responsáveis por trazer Guerra dos Tronos para o
Brasil. Seu livro mais famoso, Dragões do Éter, que é uma trilogia, vendeu em
torno de 250 mil exemplares em nossa terrinha e está fazendo sucesso
internacional também.
A história do livro se passa em
Nova Éter, um mundo protegido por fadas-amazonas, as quais estavam cansadas das
falhas dos seres racionais e se voltam contra as antigas raças. Isso faz surgir
a Era Antiga, no qual Primo Branford, reúne os heróis mais conhecidos do mundo
e lidera a Caçada das Bruxas. Após essa batalha violenta, Branford torna-se o
rei de Arzallum. Pensando estar vivendo tempos de paz, situações estranhas acontecem, como uma garota que acaba presenciando sua avó ser comida por
um lobo marcado por magia negra. Draccon recria os contos de fadas de uma maneira
diferente e com uma visão mais adulta.
PJ é um publicitário que decidiu
escrever uma trilogia de fantasia sobre algo bem brasileiro: a cultura africana,
inspirado nos orixás. A história de Deuses de Dois Mundos é sobre o jornalista Newton Fernandes que faz
de tudo para chamar atenção na imprensa nacional. Ele é cético e só acredita no
poder material. Enquanto isso, na África ancestral, Orunmilá, um adivinho, perde seu dom de ler búzios, porque as Iás roubaram os Príncipes do
Destino. Então, junto com Oxum, Ogum, Xangô, Exu e Inhasã, eles partem em uma
busca.
Chamado de Harry Potter
brasileiro, o livro A Arma Escarlate é bem mais do que isso. Renata colocou o
jeitinho brasileiro em uma história de fantasia fazendo com que nos identifiquemos logo
de cara. Mas não há apenas fantasia, porque há problemas reais na história,
como: preconceito, desigualdade social, tráfico de drogas e corrupção. O livro
conta a história de Idá Hugo, um garoto de 13 anos que vive no morro da Dona
Marta, no Rio de Janeiro. Hugo acaba descobrindo que é bruxo e vai para a
escola de Bruxaria do Sudeste do Brasil, onde percebe que as dificuldades que
sente no mundo dos não-bruxos, é a mesma ali, onde há injustiça, incompetência e
problemas.
Em 2012, Renata criou o projeto
Potter em Orfanatos, no qual organiza e realiza leituras e encenações da série
Harry Potter em todo o Brasil. Muitos jovens leitores entraram no projeto,
visitam orfanatos, leem para as crianças ou vão vestidos de personagens. O
objetivo é levar o prazer da leitura para essas crianças.
Ainda há dezenas de outros
escritores brasileiros de literatura fantástica com histórias ótimas no
mercado. Não é só a Ruth Rocha que tem que dar uma chance para eles, mas também
todos nós. Crescemos com Harry Potter, agora está na hora de darmos outros voos
(de preferência, com nossas vassouras) em outras histórias.
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