Livro: A Herança, de John Grisham

Certos gêneros literários possuem representantes insubstituíveis. García Márquez no realismo fantástico; Stephen King no terror; Luis Fernando Verissimo na crônica. E, sem dúvidas, John Grisham é o representante maior do legal thriller. Ou seja, livros que possuem elementos do direito na narrativa. Advogados, juízes e promotores são, na maioria das vezes, os personagens principais de suas obras.
E Grisham, com suas tramais legais, é uma máquina de best-sellers. Afinal, o direito é uma das áreas que mais causam curiosidade nas pessoas: como é um julgamento com júri? O que o promotor vai fazer? E o advogado?
E com essas tramas, o escritor conseguiu criar clássicos da literatura universal: O homem que fazia chover, Tempo de Matar, A Firma. E agora Grisham lança mais um livro que pode entrar nessa lista: A Herança.
Neste novo livro, Grisham volta aos personagens de Tempo de Matar. Esta nova trama, porém, tem foco na herança deixada por um senhor que acaba de se suicidar. O problema, neste caso, é que ele tirou todos os bens dos filhos e netos e deixou tudo para a empregada negra. E atente-se ao fato de que a trama se passa no Mississípi, estado norte-americano extremamente racista mesmo na década de 1980. E pior: o testamento foi alterado pouco antes da morte e escrito a mão.
O advogado Jack Brigance, personagem principal também do outro romance, começa a lutar para que as vontades do morto sejam realizadas, o dinheiro vá para a empregada e os filhos fiquem sem nada.
A trama, como todas as outras de Grisham, é muito bem construída e entrelaçada. A história, narrada em terceira pessoa, vai passeando pelas opiniões, pessoas, preconceitos. Além disso, os personagens são muito bem construídos. Lettie, a empregada, consegue passar toda a dor e aflição. O escritor consegue fazer o leitor sofrer junto com a personagem.
Além disso, a cena em que a família sabe da mudança feita na herança é impecável. De um realismo absurdo. E são nesses trechos que os romances que tratam de direito, jornalismo e medicina - as profissões mais retratadas em cinema, TV e literatura - mostram o motivo de causarem tanta curiosidade: o leitor quer ser o advogado que vai dar a notícia á família, quer ser o profissional que vai tentar dar todo o dinheiro à empregada. É incrível. Técnica vista somente nos livros de Robin Cook, Tess Gerritsen, Truman Capote, que fazem a pessoa querer ser parte daquela tribo profissional.
Enfim, A Herança é mais um ótimo livro de Grisham. Envolvente, realista, bem articulado e narrado. Uma ótima e merecida continuação de uma das obras que o consagrou. Provavelmente, entrará na lista infindável de best-sellers do autor.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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