Livro: Sete Anos, de Fernanda Torres

Quando li Fim, da também atriz Fernanda Torres, fiquei fascinado. Era um dos melhores livros da literatura brasileira que via nos últimos tempos. E Fernanda, que nunca tinha me chamado a atenção, se juntou aos nomes dos principais autores da literatura nacional contemporânea.
Quando o livro Sete Anos foi lançado, entrei em desespero. Crônicas é um estilo de escrita que me atrai muito. E ainda mais escritas pela atriz-escritora em questão, lançada no meio literário de forma tão apoteótica. E agora, finalmente, consegui entrar em contato com esta coletânea.
Antes de tudo, um aviso: na capa está escrito "Crônicas" logo abaixo do nome do livro. Quando se pensa neste estilo, imagina-se textos curtos, leves e que retratam de maneira curiosa situações do cotidiano. Mas poucos são os textos assim em Sete Anos.
Logo de cara, o leitor se depara com Kuarup, um longo texto sobre as memórias de Fernanda na gravação de um filme homônimo. Isto não é crônica em lugar algum do mundo. É um texto de memórias, um relato, uma lembrança. Totalmente a ver com o estilo de texto da revista Piauí, onde foram originalmente publicados.
E, confesso que não me senti confortável lendo essas histórias. São interessantes, mas nada que chame a atenção. Afinal, passei a gostar de Fernanda após Fim, apenas. Nunca me interessei por saber da carreira profissional dela ou algo do gênero. Por isso, o desapontamento foi grande no começo. Esperava algo próximo das crônicas de Verissimo, Cony ou Marcelo Rubens Paiva: pequenos retratos do cotidiano. Coisas que qualquer um pode viver. Mas o texto em Sete Anos não correspondeu a esta expectativa.
Com o decorrer das páginas, porém, a escrita vai se tornando mais compatível com o que é esperado de uma crônica. Apesar de continuarem sendo única e exclusivamente lembranças de Fernanda, os textos vão se tornando mais ágeis e divertidos. Pornochanchada é sensacional. Um dos destaques do livro - e o melhor, sem dúvidas, da primeira parte.
O auge do compilado, porém, está na terceira parte do livro - denominada De John Gielgud a Dercy Gonçalves. Nela, Fernanda conta pequenos acontecimentos do cotidiano com personalidades, quer ela tenha participado ou não. Numa das crônicas, Fernanda narra um encontro com Dercy. Em outra, faz uma homenagem ao eterno documentarista Eduardo Coutinho. São pequenas homenagens bem escritas e com histórias simples e profundas, que emocionam qualquer um.
O texto que encerra a obra, então, é divino. Uma ótima homenagem ao gênio João Ubaldo Ribeiro. Se estivesse vivo, com certeza aprovaria a escrita de Fernanda.
Enfim, Sete Anos é um bom compilado de lembranças da atriz e escritora Fernanda Torres. Apesar de iludir um pouco o escritor - principalmente com o começo -, o leitor se acostuma com a narrativa e vai se divertindo com as histórias mostradas durante as 186 páginas. Não é um livro impecável como Fim, mas serve para se entreter. Ideal para os que buscam histórias e lembranças de alguém que tem muito o que contar sobre pessoas, sobre a carreira de atriz e sobre a vida, em geral.

Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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