Livro: A Cidade Murada, de Ryan Graudin


Em Hong Kong, um trecho da cidade transformou-se em uma terra sem lei: era a cidade murada de Kowloon. Prostituição, tráfico de drogas e jogos de azar eram a regra. E o mais interessante era a maneira que ela crescia: totalmente desproporcional, sem nenhum tipo de regulamentação ou controle. Assim, dezenas e dezenas de prédios enormes e sem nenhum tipo de segurança apareciam regularmente, transformando a cidade numa espécie de aberração, cheia de prédios e sem nenhum tipo de respiro.
A descrição acima é real, apesar de parecer a sinopse de um livro de distopia. Kowloon existiu, como pode ser visto na foto abaixo. Ela foi derrubada nos anos 90, quando o governo percebeu que tinha perdido completamente o controle da área. Atualmente, o local abriga um parque extremamente bonito e que é usado frequentemente pelos moradores de Hong Kong.
E agora, mais de 20 anos depois que ela foi demolida, a autora Ryan Graudin lança o livro A Cidade Murada. Livremente inspirada na história real, Graudin conseguiu construir uma história que mescla história, distopia e aventura de uma maneira de tirar o fôlego. Um dos melhores livros do ano que li e, sem dúvidas, a maior surpresa.


A história de Graudin se passa em Hak Nam. Uma cidade com marginais, prostitutas, traficantes e responsáveis por jogos de azar - tal qual a Kowloon real. E dentro dela, acompanhamos a história de três jovens: Jin Ling, Dai e Mei Yee.  A primeira é uma garota que se passa por garoto, a fim de uma maior segurança. Afinal, as meninas, geralmente, são escravizadas e prostituídas em Hak Nam. Dai é um garoto de origem rica e que vai para a cidade murada em busca de realizar uma missão. Já Mei Yee é uma das prostitutas de um dos maiores bordéis da cidade.
O grande ponto alto da trama é a narrativa de Graudin. Se valendo de frases curtas e diretas, ela consegue dar um grande fôlego  aos acontecimentos, deixando a história mais intensa e ágil. As descrições, tão necessárias para compreender a totalidade deste mundo surreal, são bem colocadas e precisas, com exceção de alguns exageros no que se diz respeito à metáforas e exemplificações. A autora acaba perdendo a mão em alguns momentos, deixando o texto parcialmente arrastado.
Além disso, a construção dos personagens e do meio social são impecáveis. Apesar de utilizar a técnica de inserir um animal na história - visando criar maior empatia com a trama -, ela consegue causar um sentimento de identificação intenso com o leitor.
Enfim, A Cidade Murada é uma grande surpresa. Primeiramente, por não ser uma distopia, mas uma história baseada em fatos reais. Em segundo lugar, pela excelente qualidade de narrativa. Uma história que deve e merece ser lida.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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