Filme: Cidades de Papel


No ano anterior, milhares de salas de cinemas ficaram lotadas de pessoas e lágrimas com a versão cinematográfica de A Culpa é das Estrelas. É claro que o sucesso foi tanto que, temos então, mais uma adaptação de um livro do autor John Green: Cidades de Papel
Quase toda a estratégia comercial do primeiro filme se repetiu: vimos um pôster com dois personagens de rostos colados. Vimos um trailer com um protagonista recitando os principais quotes do livro ao som de uma banda indie. Vimos até os títulos dos dois filmes escritos na mesma fonte. 
Ainda assim, essas duas histórias não merecem ser comparadas. Enquanto a primeira trata de questões pontuais - câncer, morte, sonhos -, a segunda deve ser analisada por camadas. Na camada de cima, a mais superficial, o enredo é muito fraco: piadas bobas - uma ou outra é engraçada, confesso -, algumas considerações infantis e relacionamentos supérfluos. A partir da segunda camada, a história ganha um significado muito mais interessante e maduro que reflete os valores das relações humanas - nós enxergamos as pessoas pelo que elas são ou pelo que queremos que sejam?
Em pouquíssimos momentos, John Green descreve que a mensagem é essa, mesmo sabendo que muitos de seus fãs ainda são novos e podem não captá-la. Apesar de vários pontos que poderiam ser melhor desenvolvidos, o recado é claro e esse é o ponto mais forte de Cidades de Papel. 
O mesmo não se repete no filme. A produção cinematográfica busca elevar as camadas mais ocultas para cima, abusando do didatismo e colocando a "moral da história" no mesmo nível de piadas fracas. No fim das contas, uma piada envolvendo urina e uma lata de cerveja ganha o mesmo impacto nos espectadores que um discurso filosófico sobre relacionamentos e auto-descobertas.



O protagonista Quentin (Nat Wolff) é apaixonado pela enigmática Margo Roth Spiegelman (Cara Delevingne) desde criança. Certa noite, ela invade o quarto dele e pede ajuda para resolver alguns problemas com o ex-namorado e amizades distorcidas. Quentin a ajuda, tendo certeza de que aquela "aventura" seria a chave para o retorno da amizade deles - e, talvez, até algo mais. Mas, três dias depois, ele é surpreendido com a notícia de que Margo desapareceu. 
A busca de Quentin por Margo é retratada por um impasse: ele realmente conhece a garota que ele está procurando? Ou será que ele criou uma imagem de "Margo" que realmente não tem nada a ver com quem ela realmente é?
O roteiro, mesmo facilitado, é um ponto forte do filme, acompanhado pela fotografia e pelos truques de iluminação. Os primeiros momentos que Quentin vê Margo, as cores estão mais fracas, como se ele não enxergasse as "verdadeiras cores", a verdadeira personalidade da garota. 
A atuação de Cara Delevingne é excelente, e a atriz é aproveitada ao máximo antes da personagem sair de cena. Nat Wolff também reflete muito bem o Quentin criado por John Green, com alguns traços de Charlie de As Vantagens de ser Invisível e outros do Ferris, de Curtindo a Vida Adoidado. Já os personagens secundários aparecem para cobrir buracos do enredo com uma piada ou outra, mas envolvendo-se de maneira completamente superficial com o plot principal (a busca de Quentin por Margo).

A verdade é que Cidades de Papel é uma história sem ritmo de cinema. O destaque do enredo é a auto-descoberta do rapaz, o que pode ser um pouco entediante quando retratada na telona. O romance não acontece entre Quentin e Margo, mas entre Quentin e si mesmo. O personagem está preso em uma paixão unilateral, e toda a visão do filme é, também, unilateral. 
Apesar de alguns pontos fracos, o filme diverte e cumpre os requisitos, em especial para aqueles que não têm afinidade com a história original. 


Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

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