Livro: Agora Aqui Ninguém Precisa de Si, de Arnaldo Antunes

Acredito ser desnecessário explicar quem é Arnaldo Antunes. Um dos maiores ícones do rock nacional, Arnaldo também é um poeta de mão cheia. Já lançou obras que se tornaram clássicas como  Tudos, Nome, Frases de Tomé aos três anos, N.D.A. Em suma, livros que acabaram se tornando referência da poesia nacional atual, que tanto carece de bons nomes.

Agora, Arnaldo acaba de lançar Agora Aqui Ninguém Precisa de Si, pela Companhia das Letras. Nele, o poeta cria uma série de poesias que brincam com a sonorização das palavras, suas formas, conceitos, imagens. Apesar de ser parte da poesia concreta, nada é fixo. Cada página surpreende o leitor ao mostrar formas de inovar e alterar o óbvio.

Assim, seguindo passos de Paulo Leminski e, mais fortemente, de Décio Pignatari, o paulista consegue surpreender e impressionar seu público com a simplicidade. Inserções de imagens e alterações da ordem lógica de uma página também deixam a leitura mais dinâmica e menos maçante.

Algumas passagens, inclusive, fazem com que o leitor fique vários minutos apenas observando as inúmeras interpretações e, principalmente, a bela construção linguística. Exemplo: o poema de abertura, denominado "Nada", é impecável. Reproduzo um trecho: "nada / com um vidro na frente / já é alguma coisa // nada / com um vento batendo / já é alguma coisa // nada / com o tempo passando / já é alguma coisa // mas / não é nada."

É interessante notar, também, que o livro como um todo é uma construção bem pensada. Como notado por José Miguel Wisnik na orelha da obra, Agora Aqui Ninguém Precisa de Si começa com o nada e termina com o silêncio. Quem ler, entenderá. É uma construção impecável e extremamente bem elaborada. Genial, como Arnaldo.

Exemplo de poema do livro
O único erro do livro, porém, é quando Arnaldo se arrisca em um universo alternativo e que sai completamente da proposta original do livro. Em uma seção denominada "Prosinhas", Arnaldo cria algumas pequenas histórias, que duram uma ou duas linhas. Qualquer leitor consegue reparar que essa área está fora da lógica geral de Agora Aqui Ninguém Precisa de Si. Estraga um pouco a experiência.

De resto, Arnaldo continua reinando na poesia concreta, pós-concreta e contemporânea. Difícil achar outro poeta tão experimentalista e que consiga se sair tão bem. É raro e emocionante ver que livros como esses ainda são produzidos no Brasil.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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2 comentários:

  1. Não sou fã de poesias, mas eu até gosto delas! O livro parece ter uma proposta interessante. A resenha faz sentido em citar algo em que o autor não se relaciona muito bem.

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  2. Os únicos livros de poesia que eu gostaria de ler são Eu me chamo Antônio e Pó de Lua. Embora eu tenha achado interessante o fato de que se pode ter várias interpretações, não sei se o acrescento a essa lista. Mas por via das dúvidas vou procurar mais sobre o livro, vai que vendo outras opiniões eu me interesse mais.

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