Em
Hibisco Roxo, a escritora Chimamanda Ngozi Adichie nos apresenta uma história diferente de tudo que estamos acostumados em relação a cultura
africana/nigeriana. Já em Americanah, ela nos presenteia com a história de uma
nigeriana nos Estados Unidos, mostrando que o preconceito racial americano não
é muito diferente do brasileiro. Prepare-se para ter suas estruturas
chacoalhadas.
A
história é sobre Ifemelu, que vai para os Estados Unidos em busca de uma
formação acadêmica melhor e abandona sua família na Nigéria e o amor de sua
vida Obinze. Após 13 anos, formada em comunicação e sendo uma blogueira de
sucesso que escreve sobre questões raciais, ela decide voltar para Nigéria e recomeçar
sua vida.
O
livro é uma perfeita descrição da vida de Ifemelu, que vai desde a infância até
a fase adulta. Nós passamos a fazer parte da vida dela, quando conhecemos seus
pais, sua casa e seus hábitos. Somos apresentados a sua escola, aos seus amigos
e ao seu namorado de adolescência, Obinze. Vemos o laço forte que os unia e
como ele foi quebrado após ela ir para os Estados Unidos. Lá ela enfrenta uma
realidade completamente diferente, na qual “se descobre negra”, sendo que na
Nigéria ela era apenas Ifemelu. É justamente nessa parte que há a sacada do
livro.
Eu,
como uma leitora branca, sei – infelizmente, ou será felizmente? – que tenho
privilégios por causa da minha cor de pele. Porém, nunca tinha levado isso em
consideração ou analisado isso de maneira mais profunda. Só percebi realmente
como esse “mundo de privilégios” funciona, quando cheguei na parte do livro em
que Ifemelu precisa alisar o cabelo para conseguir emprego, porque suas
trancinhas e seu cabelo afro “não eram adequados”. Após isso foi um tapa atrás
do outro em meu rosto. Há tantas coisas que fazemos que são racistas e nós nem
imaginamos!
O
livro praticamente coloca o leitor, independente de raça, cor, etnia, sexo, na
pele de Ifemelu e Obinze. Nós passamos a ver o mundo pela ótica deles e como é
ser negro nos Estados Unidos e na Inglaterra – que, como disse acima, não se
difere muito de algumas coisas que acontecem no Brasil. Apesar do romance
parecer ser o cerne do livro, na verdade, é apenas o plano de fundo. Realmente
a questão racial e a crítica social é o tema central.
Também
é legal ver como a própria Nigéria não é tão diferente do Brasil. Associamos
apenas a imagem de crianças famintas quando pensamos na África, mas Chimamanda
mostra que os adolescentes e jovens adultos de lá são muito parecidos com nós.
São ambiciosos, sonham por dias melhores, querem um país melhor, mas também
querem poder estudar no exterior e fazer a diferença.
Ifemelu
é uma personagem forte e complexa. Acompanhamos todos seus pensamentos, desde
as críticas raciais e sociais, até as farpas que lança a algumas pessoas. Ela é
uma personagem bastante real. Apesar do livro ser em terceira pessoa – as vezes
focando em Ifemelu, outras vezes em Obinze –, há vários posts do seu blog. É
através da sua maravilhosa acidez que percebemos o racismo americano.
Como
é um livro sobre o cotidiano e história de vida dos personagens, algumas partes
que parecem não tão importantes podem tornar o livro um pouco enfadonho – são
mais de 500 páginas! Também há tanto personagem, que às vezes o leitor pode se
perder. Ainda mais porque os nomes são nigerianos e difíceis – mas fiquei
curiosa quanto a pronúncia. Mesmo assim, isso não diminui a experiência
incrível de lê-lo.
Fico
me perguntando quanto do livro pode ser uma biografia da própria escritora,
Chimamanda. Os acontecimentos são escritos com tanta precisão, que
provavelmente viveu-os enquanto estudava nos Estados Unidos, assim como a
personagem principal. Um livro magistral que precisa ser lido por todos, ainda
mais se queremos lutar contra o preconceito racial.
Nunca li nada nesse estilo, pelo menos, que eu me lembre. Afinal, não é muito o meu estilo, mas depois dessa sua resenha eu fiquei realmente curiosa sobre esse livro. E parabéns pela resenha 😊
ResponderExcluirAcho a cultura Africana bem interessante, apesar de nunca ter lido algo desse gênero. Racismo é algo que enfrentamos no dia a dia, então, ver esse lado e mais um pouco em outra visão, seria ótimo.
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