Livro: No Início Não Havia Bob, de Meg Rossoff

Caso você estivesse escrevendo um livro e fosse criar um personagem adolescente, como ele seria? Sim, eu sei que é uma pergunta muito difícil. Afinal, estamos adaptados a milhares de histórias nas quais todos os personagens são adolescentes construídos por meio de um leque muito extenso de características. Na capa do livro No Início, Não Havia Bob, da autora Meg Rossoff, está estampada a frase "E se Deus fosse um adolescente?". Por mais que seja uma chamada bem atraente, é tão vaga quanto o resto do livro.

No livro de Meg, o planeta Terra foi criado por um Deus adolescente. A diferença é que, neste caso, o que destaca o protagonista não é o fato dele ser adolescente, mas sim ele ser um babaca. Ele é preguiçoso (criou um planeta inteiro em seis dias e ainda foi dormir no sétimo!), punheteiro, grosseiro e mimado. Ele tem, inclusive, um nome bobo: Bob

Desta maneira, o livro traz uma reflexão singela e positiva para a história: será que a justificativa para tantas guerras e para os seres humanos serem criaturas tão destrutivas e complicadas não é que fomos criados de maneira ordinária? 

Mas não é nisso que a história foca. Bob, enquanto está dormindo, ouve a oração de uma garota chamada Lucy que quer se apaixonar. Ao ver o rosto dela, ele mesmo se voluntaria e a história gira em torno do romance de Deus e de Lucy. É curioso o fato que a "perdição" de Deus seja por uma garota com este nome - tão parecido com Lúcifer. Mas, conforme a história se desenrola, percebemos que não passa de uma coincidência. 

O amor é representado de maneira complexa. Conforme Bob vai se apaixonando por Lucy, vão ocorrendo milhares de tempestades e surtos meteorológicos ao redor do mundo. Tsunamis, tempestades de neves, enchentes, furacões, milhares de pessoas morrendo... Temos, então, uma controvérsia interessante: o amor sendo representado por tragédia. 

Alguns recursos estéticos também deixam a desejar. A narrativa fica perdida entre os personagens, um narrador onisciente que entra na cabeça e lê os pensamentos de dez participantes de uma mesma cena. Não há um foco definido nas cenas, o que deixa o leitor completamente perdido entre pensamentos vagos e uma profundidade muito rasa. 

Um ponto positivo da história é como o estereótipo de adolescente que fundamenta o protagonista se relaciona com os acontecimentos da Bíblia. Essa comparação humaniza muitas partes do Livro Sagrado e torna a história minimamente engraçada em alguns pontos. Infelizmente, No Início, Não Havia Bob conta uma história de amor fraca com personagens chatos e narrativa ruim. 


Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

    Comentários do Blogger
    Comentários do Facebook

0 comentários:

Postar um comentário