Filme: Jogos Vorazes: A Esperança - O Final

Há um ano, fiz uma crítica aqui no Índice X sobre Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1. Nela, escrevi a seguinte colocação: "[Existem alguns] momentos e cenas desnecessárias, que com certeza foram acrescentadas para justificar a divisão em duas partes do último livro. Além disso, quando o filme parece estar tirando o ar do espectador para dar um grande fôlego para a história, ele acaba. A tensão política, tão bem posta no filme inteiro, é cortada. Esses problemas, com certeza, teriam sido resolvidos se A Esperança fosse algo só. Um filme apenas, talvez com três horas de duração."

Quando escrevi isso, tive o cuidado de colocar o "talvez". Afinal, para saber se eram desnecessárias as duas partes, precisaria assistir o final da saga Agora, com o último filme nos cinemas, a resposta definitiva: o estúdio, o diretor e os produtores da saga queriam apenas ganhar mais dinheiro. Dois filmes não se justificam e não se sustentam. Vamos aos fatos.

Jogos Vorazes: A Esperança - O Final começa do exato ponto onde terminou A Esperança - Parte 1. Katniss (Jennifer Lawrence) está machucada após um embate com Peeta (Josh Hutcherson). Mas ela ainda está determinada a cumprir seu objetivo: destruir a capital e matar o tirano Presidente Snow (Donald Sutherland). E Katniss não está sozinha com este sentimento. Todos distritos de Panem estão em revolução e as pessoas estão em guerra. Nenhuma novidade certo?

Certo. Mas os envolvidos com o filme não acham isso. Os primeiros trinta minutos do novo longa de Katniss Everdeen passam recapitulando toda essa história. Katniss dizendo que vai matar Snow. Katniss gravando vídeos para motivar as pessoas. Katniss sofrendo com o triângulo amoroso insosso entre ela, Peeta e Gale (o péssimo Liam Hemsworth) . Tudo igual. Tudo que os fãs já sabem.

Os primeiros trinta minutos, então, são jogados no lixo. Os outros trinta começam a introduzir o que irá acontecer ao longo de todo o último filme, mas poderiam virar apenas 10 minutos. Muito blá-blá-blá e diálogos desnecessários.

O pior disso tudo, no entanto, é a persistência de um problema: a desvalorização de atores. Woody Harrelson, Jeffrey Wright, Elizabeth Banks e Philip Seymour Hoffman continuam aparecendo menos do que deveria. Hoffman, aliás, fez sua última aparição no cinema. Triste ver tão poucas cenas com ele. No final, aliás, a figura dele faz falta.

Apesar disso, os principais se saem muito bem. Hutcherson amadureceu profissionalmente e está atuando como nunca. Jennifer Lawrence, enquanto isso, continua mantendo bem sua personagem. Uma cena em especial - envolvendo o gato de Prim - é um espetáculo. Lawrence em todo seu potencial dramático. Sutherland e Julianne Moore também encarnaram bem seus papéis e convencem com suas atuações. Deste grupo, só Hemsworth se destaca negativamente. Não tem expressão, não é carismático. 

O roteiro também agrada em alguns pontos e a direção de Francis Lawrence é boa e competente, apesar de não surpreender em momento algum. Três cenas, em especial, são marcantes e pontuam o ritmo da história. Uma delas, feita nos subsolos de Panem, cria uma espécia de filme de terror e prende a atenção. Muito bem feita e com ótimos atores.

Você, leitor, deve estar se perguntando, então: qual o problema do filme? Por que ele não se sustenta? Por que não deveria ser dividido em duas partes?

A resposta? O final não é épico. Não é memorável. Não condiz com toda a força da saga. Por causa da enrolação, existem muitas cenas vazias e sem sentido entre o que realmente interessa na história. Assim como o que foi visto no  A Esperança - Parte 1, o filme só engata quase no final e, roubando uma frase da minha crítica passada, "quando o filme parece estar tirando o ar do espectador para dar um grande fôlego para a história, ele acaba."

Nada de fato acontece. Além disso, por algum motivo misterioso, todas as mortes de peso são corridas. Uma delas, aliás, é absurda. Fica parecendo até um sonho, de tão rápida que é - mesmo sendo importante. Uma grande reviravolta no final também é descartada. Dura duas cenas e já acaba. Não há um bom desdobramento.

Tudo seria resolvido, então, se fosse apenas um filme. Muitas coisas ficariam de fora? É claro. Mas este é o ponto das adaptações cinematográficas. Não são livros. São releituras para a telona. Por isso Harry Potter não é igual ao livro. Algumas coisas não ficam bem na tela grande, com atores encenando. A produção de Jogos Vorazes, porém, não captou isso.

Enfim, Jogos Vorazes: A Esperança - O Final é bom, mas possui muitos problemas por causa da divisão em dois filmes. Ritmo lento, cenas desnecessárias, abuso da história do triângulo amoroso, atores desperdiçados. O último filme da saga reflete a saga: ficou alguns degraus abaixo da perfeição. Alguns passos antes do porta que separa o cinema convencional e os filmes que entraram, de fato, para a história do cinema.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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