O Quarto Dia: lições de como não terminar um livro

Tudo corre perfeitamente bem no navio O Belo Sonhador: jovens se embebedam, solteiros procuram pares ideais, atrações internacionais se apresentam para entreter o público ocioso no meio do mar. O que ninguém espera, porém, é que o navio começará a apresentar problemas —  não explicados pela tripulação de maneira satisfatória — e ficará parado, sem contato com o continente e com todos seus suprimentos de comida e água.

Esta é a premissa inicial do livro O Quarto Dia, de Sarah Lotz. Apesar de não ser uma continuação direta, a obra cria laços com o livro  Os Três, que fala sobre uma tragédia de aviões.  Em O Quarto Dia, Lotz brinca com o macabro, o surreal e o thriller para criar uma atmosfera de suspense dentro deste cruzeiro que começa a passar por problemas no meio do mar. E, no começo, a ideia de Lotz é impecável.

Alternando o personagem em foco a cada capítulo, Lotz consegue dar um bom panorama geral sobre a situação que se vive no cruzeiro, mesclando de maneira sucinta e correta todos os elementos que se propõe: thriller, suspense e, até mesmo história de fantasmas.

Além disso, apesar de ter alguns personagens pouco interessantes, todos os principais com capítulos inteiramente dedicados à eles são bem desenvolvidos. Duas idosas suicidas e o médico do cruzeiro, principalmente, conseguem chamar a atenção e desenvolver capítulos agradáveis, interessantes e, por vezes, intensos de ler.

E assim continua O Quarto Dia, ao longo de suas 300 páginas. Entretanto, nas últimas 50 páginas, tudo vai por água abaixo. Toda a história, bem estruturada e com boas doses de suspense e ação, somem.

Lembram do novo filme do Quarteto Fantástico? Em determinado ponto, toda a história criada e desenvolvida some e parece que começamos a ver outro filme, não é? A mesma coisa ocorre aqui. Parece que alguém deu um forte pancada na cabeça de Sarah Lotz, despertando outra personalidade em seu interior para terminar este livro.

O final é desconexo, chato, pouco inventivo. Nada chama a atenção. Enquanto as 300 páginas do começo do livro correram por ter conteúdo interessante, as últimas 50 correram pelo desespero de que acabassem logo.

E o pior de tudo é que Sarah Lotz comete um erro de iniciante: todo suspense criado na história não é resolvido. Simples assim. Apenas fala que um ou outra coisa aconteceu, mas nada é resolvido e muito menos explicado.

Sou fã de finais abertos. Mas finais abertos que fazem sentido com a obra. Em O Quarto Dia, isso não existe.

Enfim, o livro de Sarah Lotz tem 300 páginas impecáveis e bem desenvolvidas. Mas peca por um final pedante, preguiçoso e chato. Espero que isso se resolva nos próximos livros da autora.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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