O Ladrão do Tempo | John Boyne

Sabe aquela sensação quando você lê um livro tão bom que o único defeito é você não ter pensado naquela história antes do autor? É quase o caso do livro "O Ladrão do Tempo" de John Boyne. Vou explicar o porquê: o enredo é fácil e até clichê, apresenta uma situação que já vimos em milhões de filmes, livros e até em séries. Ou seja, já pensamos na história antes. Mas, o que está longe – muito longe – de ser um clichê é a forma como John Boyne desenvolve, estruturando muito bem o protagonista, relacionando contextos históricos e provando, com um grande livro, que é um escritor de qualidade. 
“O Ladrão do Tempo” é Matthieu Zéla, um homem de 256 anos. As páginas do livro narram os amores, desamores, perdas e ganhos em todos os dois séculos e meio que viveu. A literatura até hoje já teve muitos personagens “imortais”, mas a diferença deste livro para os outros é que não busca uma explicação para a pausa no envelhecimento de Zéla. Não há uma justificativa nem natural muito menos sobrenatural. Matthieu Zéla não é um vampiro, não é um super-herói que se regenera e nem um cientista que criou um elemento que o afasta da morte. Ele é apenas um homem que parou de envelhecer – nem o próprio protagonista está interessado em saber as causas.
Em um livro com 570 páginas e um tempo de narrativa de 256 anos, é óbvio que milhares de personagens vão e vêm. Mas, podemos destacar dois, que marcam presença em todo o livro, capítulo sim, capítulo não. O primeiro é Tommy, que, na verdade, são muitos personagens em um só. A “Legião dos Tomas” começou com o nascimento do meio-irmão de Matthieu, em 1750, chamado Tomas. Durante todos os anos do protagonista, ele cuidou dos vários descendentes de seu irmão, cujos nomes são variações do original: Tomas, Thomas, Tom, Tommy, Thom, entre outros. Cada um deles já nascia com o destino traçado: ter um filho aos vinte e poucos anos e depois morrer. Independente se a morte é por assassinato ou overdose, nenhum Tomas até então tinha se safado do destino trágico. 
Tommy DuMarqué, o atual “sobrinho” de Matthieu, é um ator famoso viciado em todos os tipos de drogas. Sabendo que a situação do rapaz já estava crítica e que ele já tinha engravidado uma garota – ou seja, o seu sucessor já estava encaminhado – o protagonista decide algo que nunca havia feito em 256 anos de vida: ele iria mudar o rumo das coisas e salvar a vida de seu sobrinho. 
A outra personagem é Dominique, o primeiro amor da vida de Matthieu. As impressões sobre a garota vão de oito a oitenta com o decorrer do livro, sendo que o leitor acompanha junto do protagonista tudo que ele viveu e passou por ela. Os capítulos seguem um ritmo único: um com o momento do protagonista com Dominique (“Quando morei com Dominique”, “Quando trabalhei com Dominique”). Outro com alguma história aleatória do passado e outra com uma situação do presente ao lado do sobrinho Tommy. Os capítulos aleatórios não exigem uma ordem. Você pode separá-los do resto do livro que ainda assim vai entender – não que eu tenha feito isso, mas é possível.
Destaquei na resenha de “O Menino do Pijama Listrado” que admiro o livro pela forma inusitada que apresenta o contexto – nazismo, Segunda Guerra Mundial. O ponto mais forte de "O Ladrão do Tempo" e, talvez, do escritor John Boyne é exatamente esse: a riqueza nos contextos históricos. Aprendi sobre a Revolução Francesa através do caráter revolucionário de um dos Tomas. Aprendi sobre o mercado cinematográfico nos anos 60 através da namorada Constance (embora o livro seja cheio de “melhores partes”, esta é a minha preferida). “O Ladrão do Tempo”, além de ser um livro maravilhoso, é uma aula de história que não dá, nem um pouco, vontade de dormir.

Rafael Palone

20 anos, é jornalista o tempo todo e Superman nas horas vagas. Potterhead, filho de Hermes, tributo, cinéfilo, membro da erudição, coldplayer, palmeirense, fanático por super-heróis, entre outros. Sabe tocar piano, teclado e campainha. Gosta de escrever e seu maior sonho é entrar no cinema para ver a adaptação de um livro por ele escrito.

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4 comentários:

  1. Quero ler mais deste autor o único que li dele foi "O menino do pijama listrado" e gostei

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  2. Parecer ser bom! Achei interessante a capa do livro, com listras, já que o autor escreveu "O menino do pijama listrado", e a capa dele também tem listras, fazendo uma alusão o pijama.

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  3. Já ouvi falar muito bem do livro O Menino do Pijama listrado e como esse e do mesmo autor com certeza deve ser ótimo.

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  4. Nossa, que história cativante! Sem se falar que existem citações históricas que nos ajudam a aprender mais fácil! Já tenho um novo topo na minha lista de desejos.

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