Livro: Te vendo um cachorro, de Juan Pablo Villalobos

Juan Pablo Villalobos é um gênio. Mexicano, o escritor é especialista em compreender a sociedade da América Latina. Seus tipos e personagens, desde Festa no Covil, encantam quem lê. São personagens reais, palpáveis e que podem ser encontrados em qualquer esquina do Brasil ou de qualquer um dos países vizinhos.

Agora, Villalobos acaba de encerrar a trilogia sobre o seu país de origem, o México. Começou com o excepcional Festa no Covil, passou pelo bom Se vivêssemos em um lugar normal e agora lançou Te Vendo um Cachorro. Todos eles, apesar de formarem uma única trilogia, não possuem uma ligação direta e podem ser lidos de maneira independente. A única ligação, de fato, é o país do continente norte-americano.

Obviamente, o novo livro se passa no México e conta a história d o taqueiro Teo, um senhor de 78 anos que se muda para um prédio decadente e cheio de outros idosos, que, graças ao tempo ocioso, passam o dia fazendo fofocas e lendo livros no corredor. O personagem do livro de Villalobos, no entanto, não se encaixa com o ambiente. Confundido com um escritor, ele não consegue se relacionar bem com os vizinhos - principalmente a síndica - e o clima de todo o lugar é terrível.

Além disso, a história vai sendo costurada com acontecimentos da infância de Teo, que mostram a construção da mentalidade e características do senhor mexicano. Essa história paralela acaba dando um tempero a mais na narrativa de Teo já idoso, já que se torna possível compreender melhor o personagem criado por Villalobos.

O personagem principal, como todos os tipos criados pelo escritor mexicano, é incrível e extremamente verossímil. Rancoroso e com graves problemas de socialização, é difícil simpatizar com ele. Sendo, praticamente, um serial killer de cachorros, Teo é um anti-herói. Só causa problemas e desconforto. Sentimentos estes que passam diretamente para o leitor, que se sente desconfortável com a história e com o que o senhor mexicano faz.

Teo, entretanto, cativa o leitor. Pela sua sinceridade, ele acaba criando situações hilárias. Em alguns momentos, parece até um filme dos irmãos Coen. Tudo dando errado e o personagem principal permanece impassível. É uma antítese da hipocrisia. Fala o que pensa e não quer saber de agradar os outros.

Com isso, a história fica fluída. Retratando de maneira direta e sincera o dia a dia de uma cidade latino-americana, Villalobos consegue manter o ritmo da história o tempo todo. Apesar de causar desconforto na morte dos cachorros, todos os acontecimentos se justificam em atitudes de Teo.

Enfim, Te Vendo um Cachorro é uma obra sensível, sincera e reflexiva sobre a América Latina. Fechando com chave de ouro a trilogia do México, Villalobos mostra o motivo de ser um dos maiores autores da atualidade. Como disse lá no começo, é um gênio.


Matheus Mans

20 anos, estudante de jornalismo. Leitor voraz de qualquer tipo de livro, cinéfilo de carteirinha e apaixonado por música brasileira. Não vive sem doses frequentes de Stephen King, Arnaldo Antunes, Wes Anderson, Woody Allen, Adoniran Barbosa, Neil Gaiman, Doctor Who, Star Wars e muitas outras coisas que permeiam sua vida.

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