As mulheres de Moçambique

Ando me aventurando bastante pela literatura africana. Comecei com os livros da Chimamanda Ngozi Adichie e agora com Mia Couto – que eu pensava ser uma mulher negra, mas na verdade é um homem branco que vive em Moçambique. Apesar da surpresa ao descobrir realmente quem era o escritor, a história, por ser feita realmente por um moçambicano é de encher os olhos. Mulheres de Cinza é o primeiro de livro da trilogia As Areias do Imperador.
A história é sobre Imani – que na língua local significa “Quem é?” – uma jovem de quinze anos que vive em uma aldeia chamada Nkokolani, filha do líder local. Ela é uma das poucas garotas da região que foi educada por padres que a ensinaram português, aprendendo esse diferente idioma de forma impecável. De personalidade forte e muito inteligente, Imani vai contando a história de seu povo de maneira lírica, mágica e muito bela. A época em que se passa a história é no final do século XIX, na época do Imperador Ngungunyane (Gungunhane) que governava o Estado de Gaza, sul de Moçambique, e está em confronto com os portugueses.
A vida de Imani e do vilarejo muda quando recebe a visita do Sargento Germano, trazendo promessas de proteção contra o exército de Ngungunyane, quando, na verdade, ele é um republicano banido de Portugal e mandado para lá como punição. Imani fica responsável por ser a guia e tradutora de Germano.
A história é dividida por capítulos alternados, uns contados por Imani em forma de narração e outros contados por Germano em forma epistolar. Os capítulos narrados por Imani são muito mais agradáveis, pois mostram a cultura de seu povo e como é seu cotidiano com sua família. Já as cartas de Germano são um tanto enfadonhas, mostrando sua real personalidade, a qual é insegura. De forma preconceituosa – o que condiz com a época – ele maldiz da cultura africana e até se surpreende por Imani ser uma menina inteligente, quando, na verdade, é de se surpreender que Germano tenha algo dentro da caixola. Mesmo assim, os dois personagens vão se envolvendo amorosamente, por mais que, ainda nesse primeiro livro, o romance não seja o foco.

"A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer. Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos.” 

Há também as disputas entre a tribo VaChopi (de Imani) e os VaNguni (de Ngungunyane), mostrando claramente essa divisão pelos irmãos de Imani. Um, Mwanatu, segue religiosamente os portugueses e o outro, Dubula, que segue o exército de Ngungunyane.
O livro é realmente incrível, tanto para passar o tempo, quanto para saber um pouco mais sobre a história de Moçambique. Estou ansiosa pela continuação e espero que as próximas capas sejam tão lindas e com uma palheta de cores tão incrível quanto foi a desse primeiro livro.


Danielly Stefanie

21 anos, formada em Publicidade. Não sabe se gosta mais de escrever ou de desenhar. Não sabe se tem mais medo da tela em branco do Word ou do Photoshop. Lê praticamente qualquer tipo de livro. É apaixonada por cultura japonesa, faz aulas de japonês, pratica karatê e kobudo. Sem falar todas os animes que assiste. Um dia vai trabalhar no Studio Ghibli (só não sabe se será desenhando ou escrevendo).

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